Salvador
                e seu discreto padroeiro


         
Hoje, dia 10 de maio, uma procissão impediu-me de entrar, de carro, no Centro Histórico de Salvador.  A Arquidiocese e a Câmara de Vereadores homenageavam, em parceria singular, o padroeiro da capital baiana, que muitos pensam ser o Senhor do Bonfim, mas não é. 
          Arrisco-me a dizer, que o sonho de qualquer santo é ser o padroeiro de Salvador.           Afinal, segundo o festejado escritor baiano Afrânio Peixoto, no seu fantástico Breviário da Bahia, "Cristo nasceu na Bahia".
          Santo Antônio de Pádua, por exemplo, se sentiria realizado, acho eu, se a autoridade eclesiástica, à época com poderes para fazê-lo, o tivesse confirmado como o orago da capital da Bahia.
          É inegável a devoção dos soteropolitanos pelo santo casamenteiro. Prova disso são as rezas na igreja de São Francisco, no Terreiro de Jesus.
           Às terças-feiras, centenas de devotos comparecem ao vetusto templo seráfico. E, contritos, agradecem graças alcançadas;  fazem novos pedidos;  e repetem piedosas preces, tiradas dos livrinhos de novenas antonianas.
           Aproveitam, e deixam com os frades o pão que, todos os dias, é dado aos pobres que, às dezenas, procuram, famintos, a portaria do Convento. 
          A simpatia do povo de Salvador por Antônio de Pádua data de muitos séculos. 
           Conta uma velha lenda, que por volta de 1595, Santo Antônio, com o nome de Santo Antônio de Arguim, foi indicado, mas, como disse, não confirmado, padroeiro da capital baiana. 
            Ele teria livrado Salvador dos assaltos de piratas franceses. É uma história longa e apaixonante; prometo recordá-la em outra ocasião.
          Os jesuítas, que povoaram a capital da Bahia desde sua fundação, podiam ter feito Santo Inácio do Loyola, fundador da Companhia de Jesus, o padroeiro da cidade.
           Não escolheram Santo Inácio. Entregaram Salvador a um humilde santo, também membro da Companhia, chamado Francisco Xavier.
          A história de São Francisco Xavier, rica de bons exemplos, é pouco contada aos salvadorenses.  Muitos soteropolitanos crêem que o padroeiro de Salvador está entre o Senhor do Bonfim e Nossa Senhora da Conceição da Praia, esta padroeira da Bahia.
          Por que São Francisco Xavier?  Antes, um pouco de sua biografia. Ele nasceu na cidade espanhola de Navarra, no dia 7 de abril de 1506.   Foi um destemido e abnegado evangelizador. É chamado de O Apóstolo da Índia pelo formidável trabalho apostólico que realizou naquele pedaço do mundo. 
          Uma pneumonia braba o matou, no dia 3 de dezembro de 1552, nas proximidades de Cantão. Foi enterrado numa praia deserta da ilha chinesa de Sancian.
          Sua beatificação veio com o Papa Paulo V, em 25 de outubro de 1619. E em 12 de março de 1622, foi canonizado pelo Papa Gregório XV.
          É o padroeiro de Salvador porque, segundo a história, em 1686 e em 1855, teria livrado seus moradores da febre amarela e da cólera, respectivamente. Sua pronta intervenção, salvando milhares de vidas, foi considerada um milagre.
          Há quem garanta, que nos dias que correm, Salvador, mais do que em 1686 e 1855, está precisando da ajuda do seu discreto padroeiro.  
          Porque os homens estão falhando, também acho que ninguém melhor do que São Francisco Xavier para interceder pela cidade que a Igreja de Cristo lhe confiou. 
       

      

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/05/2007
Reeditado em 02/02/2020
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