O QUE SE PASSA NA RUA?
Na rua passa o vento carregando o Tempo e suas Idades.
Na rua do cronista, uma Avenida, para o bem das verdades, passava aquilo que ele viu quando criança.
Aquilo?!
Seja mais específico escriba de seu Tempo.
Sim senhor Leitor do Agora e Escrevente do Momento. A Memória do cronista passeia pela Avenida e eis, aí está!
Naquela avenida passava o caminhão dos trabalhadores da Siricícola. Era um caminhão com sua boleia e em lugar da carroceria havia uma cobertura de madeira pintada de cinza. Nela bancos onde se assentavam velhos trabalhadores. O cinza era chumbo, cansaço daquelas gentes estampado em seus rostos que anunciavam o fim daquele negócio da Barbacena Antiga.
Nesta rua também passava a “Carrocinha” pegando cachorro de rua. Prendiam todos para matá-los.
Passava também o caminhão da Prefeitura trazendo os doidos do Alto da Assistência aos Alienados. Todos vestidos de azulão. Eles, os “Loucos”, eram soltos na avenida para capiná-la, varrê-la e fazer reparo nas pedras do calçamento. Neste dia o cronista criança nem chegava à varanda da casa. Assistia a aquele espetáculo triste e melancólico da exploração daquela mão de obra pelas venezianas dos janelões que davam para a rua. Estas venezianas tinham dupla serventia: oxigenava os ambientes internos e gretas de onde vigiava o que se passava na rua.
Na rua passava adolescentes vindos dos Ginásios e Colégios.
Na rua passava crianças e professoras para o recém-criado “Grupo Escolar” – atração da avenida uma vez que fora inspirado na arquitetura de Brasília. Era aberto, moderno e cercado por grades que serviam mais à estética do que à proteção do espaço público (estas elegantes grades foram substituídas por muros para evitar a fuga de alunos e invasão de oportunistas). Era um Grupo Escolar; hoje espaço que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) transformou em “ESCOLA”. Escolas de Samba? Não, ainda. Escolas Públicas para tirar meninos das ruas.
Tudo isto passava. E passou.
Um dia veio o caminhão de piche e asfaltou aquela avenida.
Deixou de passar o caminhão da Siricícola, a “carrocinha pega cachorro” e o caminhão da Prefeitura trazendo alienados.
O cronista, já homem, senhor da idade, viu o carro da Defesa Social e seus Agentes da atual sociedade. Abriram-se as portas traseiras. Havia grades e através da jaula nenhum cão abandonado ou nenhum doido da Assistência. Mas havia gente “FER(id)A”: marginal que feriu gente ou que a sociedade (capitalista) da marginalização feriu.
Ia-se ao Tribunal!
Na rua passa o Tempo carregando o Vento Social desta humanidade que prende e solta; passa e repõe conceitos e modos, que vai para a frente dois passos e volta um fazendo da sua História evolução, retrocesso e revolução.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 30/05/2014.