Drama no café da manhã
Sento-me para tomar o café da manhã ainda sem saber que um drama está prestes a ser encenado do lado de fora do meu quarto. A empregada do vizinho havia acabado de chegar para fazer a faxina da semana e foi recebida pela Dona Lúcia, que é a senhorinha que aluga todos esses quartos nos fundos da sua casa. Consigo escutar a conversa das duas, pois é tudo muito próximo. Parece que a Dona Lúcia havia tentado telefonar para a empregada durante a semana e ela não atendeu. “Estava viajando?”, quis saber. A empregada respondeu que não atendeu porque estava trabalhando, mas Dona Lúcia insistiu que havia ligado várias vezes durante o dia. Lembrou ainda que era uma quinta-feira e normalmente ela vem fazer a faxina às quartas. Também deu a entender que ela não havia vindo na última semana.
A empregada negou veementemente que não tivesse vindo na última semana, disse que tinha os seus motivos para não ter vindo ontem, lembrou que o morador do quarto estava avisado e que se alguém tinha algo a reclamar era ele. Por fim, como Dona Lúcia ainda duvidasse, contou que havia passado o dia de ontem no hospital cuidando do filho que foi baleado. Dona Lúcia se espantou, pediu desculpas, disse que andava meio nervosa, as duas se acertaram e eu achei que agora iria tomar café em paz.
Mas não deu dois minutos até a empregada pedir que a Dona Lúcia abrisse o portão porque ela não iria mais fazer faxina nenhuma e queria ir embora. Estava claramente ofendida. Dona Lúcia tentou convencê-la de que não precisava de nada disso. Não vi, mas acredito que ficou na frente dela para impedir que saísse. Pediu ajuda para detê-la, mas eu, bom curitibano, fiz de conta que não era comigo. Por fim, concordou em abrir o portão, mas a própria empregada parecia em dúvida se deveria mesmo ir embora. Ficou alguns minutos parada ali na frente, desistiu, voltou a entrar e foi fazer a faxina.
Eu já escovava os dentes quando Dona Lúcia me pediu para orar pela vida do filho da empregada.