Bolo da Joana

As pessoas surpreendem; não somente aos outros, como a si mesmas. Sim. Somos egoístas a esse ponto. Não temos a força de tomar as rédeas da nossa vida, simplesmente, nos deixamos levar por ela. Somos comodistas, leigos. Cremos que as coisas acontecem; devem acontecer. Não obstante, assistimos a isso, apáticos, como se estivéssemos vendo apenas mais um filme, e não a nossa história, na qual deixamos de ser protagonistas e passamos a ser observadores; não exagerado, meros figurantes, desconhecedores da própria existência.

Os pensamentos surgem; no entanto, continuam sendo para sempre pensamentos, nada mais. Temos medo de mudanças, inovações. Para quê ir provar o bolo da Joana, arriscando não gostar, se o da Maria é tão bom? Para quê conhecer algo novo, extinguir pensamentos, mudar parâmetros, se estamos – aparentemente – tão felizes?

Disso é que somos constituídos, aparências. Um belo sorriso; uma roupa cara; um cabelo bem pintado. Mas o que há aí? É o medo de conhecer – e não gostar – que faz com que o desconhecido reine, constantemente. Ah, é muito fácil definir outrem; achar soluções para os seus problemas; dar conselhos; oferecer ombros amigos e lenços de papel; todavia, como podemos estar sendo sinceros com estes se não conhecemos a pessoa mais importante – nós mesmos?

Não existe outra mais importante que esta. Pensamentos exclusivistas? Egoístas? Individualistas? Não. Apenas verdadeiros. Conhecendo e querendo-nos bem – acima de tudo – podemos mover o mundo com a ponta dos dedos. É necessário, portanto, que se olhe para dentro e veja quantas lacunas estão vazias; quais os sonhos, frustrações, medos que nos impedem de seguir adiante. E então, poderemos provar o bolo da Joana, e se não gostarmos, continuaremos a procurar bolos novos, até achar o que nos apeteça.