Os grandes mágicos

   Já faz muito tempo que deixei de acreditar em Papai Noel, em Coelhinho da Páscoa, em Fadas e Duendes. Deixei também de acreditar em Príncipe Encantado, em “felizes para sempre”, no amor eterno. Quisera eu conservar a ingenuidade e a capacidade de sonhar com um mundo de fantasias. A realidade é dura demais e nos desperta todos os dias, não com um beijo, mas com um tapa na cara.
   Feliz é a Bela Adormecida que apenas com um beijo resolve todos os seus problemas. Mas ela habita um livro de histórias e de lá nunca saiu, nem mesmo para dar um passeio pelos jardins do castelo. Ela e seu amado Príncipe nasceram naquelas páginas, e continuam lá, há séculos, tentando fazer a gente acreditar que não há Bruxa e nem força do mal alguma que possam destruir um grande amor, ou qualquer que seja o nosso sonho.
   Os heróis dos clássicos infantis são uns mentirosos, uns enganadores. Mas eles não têm culpa: são personagens criados a serviço de algo, ou de alguém. Enquanto nos divertimos – e nos distraímos -, as forças ocultas por trás dos lindos enredos trabalham com afinco em prol de seus interesses: enriquecimento e poder. Em muitas histórias está implícito que o pobre deva continuar pobre, humilde, subserviente e resignado com sua condição; a mulher deve se preparar e esperar pelo tal príncipe, ao qual deverá obediência e lealdade até o fim de seus dias; os trabalhadores devem ser leais e fiéis ao patrão e aceitar seus míseros salários sem questionamento; e uma infinidade de orientações e instruções disfarçadas que poderiam ser resumidas com aquela máxima: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo.”
   Pena que a gente só consegue perceber as “boas intenções” dos contos de fadas depois que cresce, amadurece e conhece – por vezes, enlouquece -, os absurdos do mundo real.
   Ainda outro dia assisti a uma palestra em que o palestrante falava sobre isso. O mundo sempre foi assim: de um lado, uma minoria poderosa e, do outro lado, uma maioria submissa e miserável. Imperadores e Reis eram os donos do mundo, hoje são os Banqueiros e os Governos que, de um modo geral, trabalham para eles e por eles.
   Os personagens do mundo atual nada têm a ver com os ingênuos personagens daquelas antigas histórias. Ao contrário, são dissimulados e de uma desfaçatez de causar náuseas. Aqui no Brasil, e acredito que em quase todos os lugares do mundo, de tempos em tempos (ano de eleições) eles aparecem com os mesmos discursos, com as mesmas promessas de que vão acabar com a pobreza, que vão melhorar a Educação, que vão dar jeito na Saúde, que vão fazer isso e aquilo, enfim, se dizem os “Grandes mágicos” que vão tirar da cartola os “coelhos” da transformação e do desenvolvimento. Eles poderiam pelo menos mudar a frase: “O Brasil precisa de mudanças”, porque essa já está manjada demais, óbvia demais e eles não mudam nada mesmo. Fazem uma coisinha aqui e outra ali, mas a estrutura social, econômica e política é a mesma de tantos séculos.
    Mas sabe o que é pior? É que grande parte da população ainda acredita em Papai Noel, em Fadas e Duendes, em Bela Adormecida e em Mágicos e suas cartolas. Enquanto continuarmos dando crédito a esses personagens e suas historinhas, poderemos ter um fim pior do que o da Chapeuzinho Vermelho, que afinal conseguiu se safar do Lobo Mau da Floresta. Mas nós, poderemos ser engolidos pelos “Lobos Maus Urbanos” disfarçados de bons políticos. Acho que está na hora de darmos um final mais feliz pra nossa história procurando votar melhor.
   
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 29/05/2014
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