Boicotando neurônios
“E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? … Como poderei entender, se alguém não me ensinar?” Atos 8; 30 e 31
Há muito se alimenta um preconceito contra a fé predicando-a cega; como se crêssemos contra a lógica, bom senso, evidências… embora seja fato que muitos a abraçam assim, não é intenção de Deus que escolhamos algo sem entendimento. Se Jesus foi lacônico com oponentes falando por parábolas, deixando no ar, com os discípulos foi didático ensinando tudo.
Nunca censurou aos religiosos por crerem em Moisés, antes, por serem superficiais, hipócritas, e, em muitos casos, sequer entenderem o que afirmavam crer. “Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.” Jo 5; 46
Infelizmente, muito se encontra em nossos dias dos que abdicam de pensar e seguem o bando, a maioria. O efeito manada. Acontece que a fronteira entre sabedoria e sofisma é mui tênue. Não raro, com vestes do verossímil e o discurso retórico do sofisma a mentira desfila com pose de verdade. Não me refiro à política; lá é regra não exceção.
Vejamos exemplos de pequenas verdades usadas a serviço de grandes mentiras: Seguido a imprensa veicula que determinadas enfermidades podem ser combatidas com substâncias contidas na maconha. Rapidamente a manada de usuários sai às ruas pleiteando a legalização. Qual a relação? Nenhuma. Se algumas substâncias são benéficas usadas com critério pela medicina que se libere isso; nada a ver com o consumo de viciados que, geralmente induz a drogas letais no fim do túnel.
O Congresso faz tramitar a polêmica “lei da palmada” que visa coibir exatamente isso; o castigo paterno na disciplina dos filhos com tal expediente que seria violento na concepção de alguns. Porém, pra ficar mais palatável rebatizaram-na de “Lei menino Bernardo” em alusão ao garoto Bernardo Boldrini que foi morto com uma injeção letal, segundo a polícia, com anuência do Pai. Que relação tem uma palmada corretiva no fedelho com uma injeção letal? Na verdade são coisas antitéticas. A palmada de um pai responsável é gesto de amor, o qual, viola seus próprios afetos para prevenir males futuros ao filho. Assassinar ao infante é uma expressão de ódio no superlativo.
Ontem deparei com a cereja na torta dos condutores de rebanhos cegos. O “Bispo” Edir Macedo convocando seus fiéis a boicotarem a Copa do Mundo fazendo um “jejum espiritual” de 40 dias, não vendo notícias, nem jogos. A programação religiosa da Record está liberada. Pior, nos comentários ao texto aparece muitos que o defendem. Até meu jegue sabe que se trata de manipulação barata e cega dos fanáticos que lhe dão ouvidos, cujo alvo é a disputa de audiência entre a Record e demais TVs.
Esse sujeito construiu em São Paulo o dispendioso palácio que chama de “Templo de Salomão” com dinheiro de incautos; agora, está ostentando um vasta barba branca estilo rabino. A seguir o baile, em breve ele vai declarar que Sampa é a Nova Jerusalém e ele é Deus. Afirmo, terá seguidores; Inri Cristo os tem. Sua barba branca truxe-me à mente uma frase de Ruy Barbosa: “ Não se impressione com cabelos brancos, pois, os canalhas também envelhecem.”
Sobre a Copa temos as mazelas da corrupção que são de domínio público, infelizmente. Todavia, um jejum espiritual seria abster-se de contaminações, não de informações. O que fizeram Daniel e seus amigos em Babilônia, por exemplo, que preferiram reles legumes aos manjares pomposos consagrados aos ídolos caldeus.
Eles estavam em pleno “reality show” cujo alvo era adquirir sabedoria, que, advém mediante conhecimento, informações. Quando o “Bial” os chamou para o teste, “E em toda a matéria de sabedoria e de discernimento, sobre o que o rei lhes perguntou, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos astrólogos que havia em todo o seu reino.” Dn 1; 20 Certo que foi Deus que os dotou assim, mas, o fez dando sabedoria nas ciências egípcias, sumérias, babilônicas, o conhecimento acessível, então.
Claro que é mais fácil o lugar comum sugerido pelo som do berrante, que acender o fogo do saber com nossa lenha, como ensinava Plutarco. “A mente não é um vaso para ser cheio; é um fogo a ser aceso.”
Se o Salvador emprestou a metáfora da luz como tipo de sua Doutrina, onde se abrigará a ignorância? Saber o que Ele disse é mera informação; entender, uso inteligente da mesma, mas, ainda é superficial. O aprofundamento vem pela prática sucedendo ao entendimento, que o Mestre chamou de permanecer. “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8; 31 e 32