Cantor de Hit

Cá estamos nós novamente na companhia de... , Com seu excelente domingo... Cá estamos nós novamente nesta sublime interação que o entretenimento propôs ao fim-de-semana. A rede artística que reveste os lares, de miséria no almoço dominical.

Não vou complicar pra você, leitor, afinal de contas isto é uma crônica. Mas imaginem a seguinte metafísica depreciativa. Olha-se a televisão. Penetramos num cenário utópico. Maravilhas decorativas. Magnífica bagunça das tonalidades. Gente bem feita e bonita. Enlevamos o olhar naquela sucessão de imagens de cores vívidas e do melhor azougue. Sorri-se. Depois voltamos os olhos ao nosso lar. Observamos uma poeira num móvel. Um rasguinho na cortina. Um arranhão no sofá. Um taco solto. Uma janela rachada. Onde está o cenário mágico? Começa-se a procurar e não se encontra, e o pior, sabemos que não vamos achar, e a busca dos olhos é em vão. Aí é que surge a metafísica depreciativa, revestimos o nosso lar com o papel de parede da mediocridade e de características pífias, apenas por não se encontrar a fantasia que ostenta o cenário da televisão. Bem leitores, isto é uma crônica, então vamos a ela.

‘‘ Ele veio de... , Estourou com a música... , cantava nas festas dos amigos, e hoje canta pra todo Brasil. COM VOCÊS... ! ’’.

Lá vem o tal cantor à cerimônia alvoroçada da platéia. Gritos. Aplausos. Extravagância vulgar. Toda uma barulheira destoada e maçante. Já que isto é crônica, vou falar abertamente, ô gritaria chata. Escândalo impertinente.

Como eu dizia, lá veio o cantor. Camisa descolada. Calça desbotada. Cabelo moicano. Vinha gesticulando, cheio de ginga e trejeitos pomposos. Requebro da moda. Arte de um novo tempo.

Catou o microfone e “cantou” o famoso hit do momento. Mais aplausos. Mais extravagância. Chamaram-lhe de lindo, gato, gost... Opa, quase deixo escapar, mas o certo é que o público delirou. Começaram a gritar: Mais um! Mais um! Mais um! De repente o diretor do programa recebe um chamado no ponto do ouvido.

- Estamos com um problema.

- O que foi?

- O público tá pedindo mais uma.

- E daí? Qual o problema? Por acaso tamo sem tempo?

- Não é isso

- Então o que é? Deus do céu...

- Nós não temos outra música pra ele fazer play-back.

- Ué! E daí... Baixa.

- Esse também é um problema. Pra esse cantor, só consta uma única música.