O COMÉRCIO DA FÉ NA TV

Espantoso como as religiões cada vez mais utilizam à Indústria da TV brasileira para comercializar seus “produtos” e “serviços”, descaracterizando, de certa forma, seu sentido religioso. São produtos moldados para agradar aos padrões da massa de fiéis, que vão desde terços, imagens, água benta, até do próprio líder religioso posando de novo Abraão, em programas de auditório ou showmicios, lançando bandas ou cantores (a) voltados para esse segmento cada vez mais lucrativo.

Difícil é você ligar seu aparelho de TV e não encontrar uma propaganda de cunho religioso, tipo: compre uma cruz da terra santa com a água e a terra do rio Jordão, ganhe outra grátis e, de quebra (usa-se essa expressão mesmo!), leve uma medalha de Nossa Senhora, e de brinde, um oratório da mãe peregrina com uma dedicatória (e para mexer mais com a fé e o temor dos fiéis, acrescenta-se a autenticidade mostrando o local e a benção dada pelo representante de Deus aqui na terra).

Pelo que já tive oportunidade de ver, nada escapa de ser comercializado. Desde a compra de um tijolo pelos devotos até a imagem da santa que transformada em brinquedo eletrônico, reza junto com quem adquire.

Já os famosos “envelopes” de pedidos de curas, empregos e melhorias financeiras são enviados para os diversos líderes das diversas religiões para serem bentos, rezados ou orados, ao vivo, onde milhares de telespectadores ávidos de fé assistem aquela demonstração explícita de poder outorgado por Deus. E os envelopes que são levados (depende dos “recursos” de cada fiel) para a Terra Santa, ao poço de Jacó, numa área controlada, segundo eles, por palestinos, só sendo possível tal façanha, devido a um acordo feito com antecedência (nesse momento o líder faz questão de realçar os perigos que correrão em nome de Deus para orarem no poço, numa clara alusão aos conflitos entre árabes, judeus e palestinos).

E não adianta trocar de canal, pois algumas emissoras de canal aberto têm seus horários nobres voltados para essa programação, onde se vê frases de bispos, pastores ou obreiros, do tipo: “Pode comparecer ao templo que algo bom vai acontecer!”, “Eu tenho a solução para os seus problemas” (lembrei de “Irmã Jurema” e seus panfletos distribuídos por toda cidade), “Vou comprar a sua briga e se Deus não lhe abençoar, eu não pregarei mais sua palavra” (uma autoridade tão grande que chega a desafiar o todo poderoso).

Tem até gráfico explicativo classificando os que contribuem para a obra de Deus (corrente do bem) e os que não (corrente do mal), evidenciando a jogada de tapar brecha para a segunda opção, já que o temor de ser castigados e irem para o inferno os levam a não meditar sobre a técnica usada.

Tem, também, até canal exclusivo para venda de produtos religiosos ou ligados a religião (estilo shoptime), denominado “shopping do Davi” (com platéia presente, no modelo americano) onde os apresentadores investem pesados nos seus apelos comerciais, chegando a comparar seus produtos a “perfumes franceses” (pequenos mais com as melhores fragrâncias!) ao fazer a relação do perfume e um livro chamado “uma visita ao Santo Sacramento”.

Mas, o mais interessante é você poder adquirir os sermões do dia (denominados “palestras”), em CD, fita cassete, VHS e até MP3, uma demonstração de que tudo pode e deve ser comercializado em nome de Deus, amém? Os apelos para se vender, são inúmeros, onde transmitir o evangelho é secundário e apenas são escolhidos trechos condizentes, para dar sustentação ao comércio implantado.

A todo instante os pedidos de dinheiro para sustentarem os programas e mantê-los no ar invadem o inconsciente dos telespectadores e são sempre tônicas dos discursos dos líderes, que apresentam um sem números de opções, que vão desde os boletos bancários até as várias contas correntes para que os fiéis se tornem “sócios” e “patrocinadores” da palavra de Deus.

Isso me fez recordar uma passagem do Evangelho onde Jesus purifica o templo, expulsando de lá todos quantos vendiam e comercializavam objetos.

Nada, porém é novo. A Cultura Industrial no diz que tudo, inclusive, a cultura é comercializada pelo sistema de produção cultural, com um mesmo esqueleto e roupagem nova. É verdade. No Antigo Egito, os sacerdotes usavam dessa prática; os monges com suas esculturas e santinhos em pergaminhos, na Idade Média, também. E o que não dizer do comércio das relíquias sagradas e das indulgências, também na Idade Média? Enfim, muda tão pouco como o próprio conceito de lucro (o que diria Tomás de Aquino!).

O que parece, é que tudo se transformou em banco, com suas agências e metas a serem cumpridas e, os produtos e serviços apresentados, mexem diretamente com a fé daqueles que busca na palavra de Deus, a salvação de suas almas.

 



Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 10/05/2007
Reeditado em 06/02/2012
Código do texto: T482328
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