GREGÓRIO DE MATOS – O BOCA DO INFERNO
Onde estão seus versos inversos. Suas linhas ralas e chulas, tão pares do real?
Que falta faz sua poesia com rima, rimadissima sem economizar palavras, frente a essa panaceia (ou Panacea em latim) – deusa da cura, desses Best Sellers de ajuda, remédio de todos os males que não rendem, senão, lucrativos tostões tirados do suor dos aflitos.
Kama sutra é o melhor autoajuda de todos os tempos! Será que alguém conseguiu realizar metade das dicas deste livrinho sagrado?
Ah... que nostalgia da ironia de Gregório, sem formalismo, desenhada, reproduzida com ousadia do já carnaval político, do clérigo de antão, germes dessa herança maldita em que vivemos.
Sua letra com tinta de sangue paira ainda hoje como bruxo-exu-guia para aqueles agarrados aos dicionários elamados de palavras emprestadas sem sentido e importadas.
Nesse mundeco de retórica de palanque globalizado, neoliberalista, a sua Bahia seiscentista é hoje mais do que nunca de todos os santos.
A sua alcunha de boca do inferno, rebelde e maldito, é nomenclatura dos afrescurados, bestalizados, alienados, pedófilos, que aceitavam a batina numa vida eterna de concubinato imundo.
Que nasçam poetas como Gregório, o Brasil implora pelos palavrões espalhados nas esquinas!
Não há como deixar de imitar e parafrasear esse grande poeta:
“Valha-me Deus, o que custa,
O que o governo nos dá de graça, que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.”
Finalmente, ele mesmo conclui:
Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?...........Honra
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.