COMO GOSTAMOS DE FILA!
Brasileiro adora fila! Existem filas para todos os gostos, meios e fins. É fila de banco, fila de INSS, fila do leite, fila do futebol, fila da fila, enfim, fila que não acaba mais. O interessante é que, tendo fila, sempre tem alguém perguntando: “- É fila pra que?”
E há os que guardam a vez de quem precisa da fila. É só pagar alguns reais e tem sempre o “guardador do lugar na fila”. Por exemplo, o guardador mais popular, é o da fila das “fichas” de quem precisa de uma consulta médica. Este assume o lugar de quem precisa “pegar” uma ficha para uma consulta ou exame e, com o passar do tempo, é reconhecido por toda a comunidade como “a pessoa que fica na fila para que você não precise acordar tão cedo”. E tem o status: “- Mulher, vou pedir para fulano de tal, para ele ficar na fila por mim – tenho preguiça de levantar cedo”.
O engraçado é que o guardador de lugar na fila não se importa qual é a fila que ele está guardando o lugar. Outro dia eu precisei levar a minha esposa para “pegar” uma ficha e quando cheguei, tinha um guardador de lugar, como o primeiro da fila. Detalhe: a ficha era para se fazer uma transvaginal. E o importante nisso tudo é que o guardador de lugar na fila tem o conhecimento aprofundado sobre o assunto e passa as dicas para a mulher que vai fazer o referido exame: “- Olha, a Senhora precisa fazer assim, assim e assim, para poder dar certo”.
Na verdade é um comércio bem organizado entre eles, pois o guardador não precisa ser convocado para guardar fila. Ele já sabe, de antemão, que alguém vai precisar e já fica na fila. E quem precisa também já sabe e quando chega vai perguntando: tem alguém guardando lugar na fila? Uma mão lava a outra, ou melhor: molhe a mão e ganhe um lugar na fila!
Por incrível que pareça, tem até guardador de fila para votar. É isso mesmo! No domingo passado fui cumprir o meu dever cívico e, com isso, exercer os meus direitos de cidadão e, ao chegar, a fila estava enorme. Para o meu espanto, veio ao meu encontro, um jovem guardador de fila (esse da fila de Banco), me perguntando se eu queria ir para o lugar dele. Respondi que não, que não tinha pressa, e só para ver quanto custava “ir para o lugar dele”, perguntei: “- Por quanto você está guardando o lugar?”
“- Três reais, Professor”. E continuou: “- mas parece que não vou conseguir nada hoje. Ninguém ‘ta’ com pressa!” Realmente, enquanto eu estive por lá, ninguém se dispôs a pagar a bagatela para o guardador de lugar na fila
Porém, além do guardador de fila, tem aquele que, não querendo ficar em pé na fila, “guarda” o seu lugar e aproveita para se sentar ou resolver outras coisas, enquanto a fila anda. É fácil de identificar esse tipo de cliente de “fila”. Normalmente ele aparece e pergunta: “- Quem é o último da fila?” Diante da resposta, ele, propositalmente, diz: “- Era!” (Ao dizer isso, ele cria um clima de descontração, de vínculo, para poder dar o bote). “- Olha, o último agora sou eu. Eu vou aqui e volto já. Não se esqueça que eu estou atrás do Senhor”. (E olha diretamente, se mostrando – como a desfilar – para que, ao voltar, você o identifique e não crie problemas para os que estarão – e não o viu – atrás dele).
Mas, o bom da fila são os assuntos. São dos mais variados: política, futebol, mulheres (os mais comuns) até os científicos. Já vi até dissertação de Mestrado sendo defendida em fila de banco!
Entretanto, há uma categoria em filas que ninguém suporta: é o fura-fila. Normalmente ele chega de mansinho, “cuba” o ambiente, se faz de preocupado e aplica o xaveco: “- Pessoal!, preciso apelar para a boa vontade dos senhores. Infelizmente ainda tenho que ir há mais dois bancos e se for pegar essa fila, vou perder o horário dos outros e o meu patrão é capaz de me demitir”. É batata! Ninguém vai querer aumentar as estatísticas de desemprego. A surpresa vem depois que você – quarenta e cinco minutos mais tarde – sai do Banco. O fura-fila está na esquina batendo papo, todo sorridente, deixando o tempo passar, para só chegar ao escritório do patrão, no horário que, se ele tivesse ficado na fila, iria sair.
Agora, a fila que mais causa desgaste, é a fila para se conseguir uma vaga em Escola Pública. Esta é cruel! Três dias antes, debaixo de sol, chuva e frio. Tem famílias que só deixam de levar a casa (por ser impossível de transportar) para a fila. Ali, na fila, entre barracas de camping, cadeiras dobráveis, condicionadores térmicos de alimentos, gatos e cachorros, o pessoal aproveita para jogar baralho, dominó, xadrez, enquanto assistem pela TV portátil, aos programas favoritos.
Mas fila é também lugar de reencontro, de revê ex-colegas de profissão e encontrar parentes que detestam fazerem uma visita social. Falando nisso, tive o prazer de me encontrar - numa fila, é claro – com uma ex-colega de banco, depois de 11 anos sem ter notícias da mesma. Foi reconfortante saber que ela estava bem, casada, com saúde e uma ótima situação financeira. O detalhe: como eu tinha saído com pressa, acabei esquecendo o velho companheiro de fila – o livro – e a nossa conversa, enquanto a fila andava, acabou por ser o lado positivo dos trinta minutos, até a “boca” do caixa eletrônico. Enfim, para não perder o costume, na próxima semana estarei novamente em mais uma fila, apreciando o cotidiano dos que dela se utilizam.
Brasileiro adora fila! Existem filas para todos os gostos, meios e fins. É fila de banco, fila de INSS, fila do leite, fila do futebol, fila da fila, enfim, fila que não acaba mais. O interessante é que, tendo fila, sempre tem alguém perguntando: “- É fila pra que?”
E há os que guardam a vez de quem precisa da fila. É só pagar alguns reais e tem sempre o “guardador do lugar na fila”. Por exemplo, o guardador mais popular, é o da fila das “fichas” de quem precisa de uma consulta médica. Este assume o lugar de quem precisa “pegar” uma ficha para uma consulta ou exame e, com o passar do tempo, é reconhecido por toda a comunidade como “a pessoa que fica na fila para que você não precise acordar tão cedo”. E tem o status: “- Mulher, vou pedir para fulano de tal, para ele ficar na fila por mim – tenho preguiça de levantar cedo”.
O engraçado é que o guardador de lugar na fila não se importa qual é a fila que ele está guardando o lugar. Outro dia eu precisei levar a minha esposa para “pegar” uma ficha e quando cheguei, tinha um guardador de lugar, como o primeiro da fila. Detalhe: a ficha era para se fazer uma transvaginal. E o importante nisso tudo é que o guardador de lugar na fila tem o conhecimento aprofundado sobre o assunto e passa as dicas para a mulher que vai fazer o referido exame: “- Olha, a Senhora precisa fazer assim, assim e assim, para poder dar certo”.
Na verdade é um comércio bem organizado entre eles, pois o guardador não precisa ser convocado para guardar fila. Ele já sabe, de antemão, que alguém vai precisar e já fica na fila. E quem precisa também já sabe e quando chega vai perguntando: tem alguém guardando lugar na fila? Uma mão lava a outra, ou melhor: molhe a mão e ganhe um lugar na fila!
Por incrível que pareça, tem até guardador de fila para votar. É isso mesmo! No domingo passado fui cumprir o meu dever cívico e, com isso, exercer os meus direitos de cidadão e, ao chegar, a fila estava enorme. Para o meu espanto, veio ao meu encontro, um jovem guardador de fila (esse da fila de Banco), me perguntando se eu queria ir para o lugar dele. Respondi que não, que não tinha pressa, e só para ver quanto custava “ir para o lugar dele”, perguntei: “- Por quanto você está guardando o lugar?”
“- Três reais, Professor”. E continuou: “- mas parece que não vou conseguir nada hoje. Ninguém ‘ta’ com pressa!” Realmente, enquanto eu estive por lá, ninguém se dispôs a pagar a bagatela para o guardador de lugar na fila
Porém, além do guardador de fila, tem aquele que, não querendo ficar em pé na fila, “guarda” o seu lugar e aproveita para se sentar ou resolver outras coisas, enquanto a fila anda. É fácil de identificar esse tipo de cliente de “fila”. Normalmente ele aparece e pergunta: “- Quem é o último da fila?” Diante da resposta, ele, propositalmente, diz: “- Era!” (Ao dizer isso, ele cria um clima de descontração, de vínculo, para poder dar o bote). “- Olha, o último agora sou eu. Eu vou aqui e volto já. Não se esqueça que eu estou atrás do Senhor”. (E olha diretamente, se mostrando – como a desfilar – para que, ao voltar, você o identifique e não crie problemas para os que estarão – e não o viu – atrás dele).
Mas, o bom da fila são os assuntos. São dos mais variados: política, futebol, mulheres (os mais comuns) até os científicos. Já vi até dissertação de Mestrado sendo defendida em fila de banco!
Entretanto, há uma categoria em filas que ninguém suporta: é o fura-fila. Normalmente ele chega de mansinho, “cuba” o ambiente, se faz de preocupado e aplica o xaveco: “- Pessoal!, preciso apelar para a boa vontade dos senhores. Infelizmente ainda tenho que ir há mais dois bancos e se for pegar essa fila, vou perder o horário dos outros e o meu patrão é capaz de me demitir”. É batata! Ninguém vai querer aumentar as estatísticas de desemprego. A surpresa vem depois que você – quarenta e cinco minutos mais tarde – sai do Banco. O fura-fila está na esquina batendo papo, todo sorridente, deixando o tempo passar, para só chegar ao escritório do patrão, no horário que, se ele tivesse ficado na fila, iria sair.
Agora, a fila que mais causa desgaste, é a fila para se conseguir uma vaga em Escola Pública. Esta é cruel! Três dias antes, debaixo de sol, chuva e frio. Tem famílias que só deixam de levar a casa (por ser impossível de transportar) para a fila. Ali, na fila, entre barracas de camping, cadeiras dobráveis, condicionadores térmicos de alimentos, gatos e cachorros, o pessoal aproveita para jogar baralho, dominó, xadrez, enquanto assistem pela TV portátil, aos programas favoritos.
Mas fila é também lugar de reencontro, de revê ex-colegas de profissão e encontrar parentes que detestam fazerem uma visita social. Falando nisso, tive o prazer de me encontrar - numa fila, é claro – com uma ex-colega de banco, depois de 11 anos sem ter notícias da mesma. Foi reconfortante saber que ela estava bem, casada, com saúde e uma ótima situação financeira. O detalhe: como eu tinha saído com pressa, acabei esquecendo o velho companheiro de fila – o livro – e a nossa conversa, enquanto a fila andava, acabou por ser o lado positivo dos trinta minutos, até a “boca” do caixa eletrônico. Enfim, para não perder o costume, na próxima semana estarei novamente em mais uma fila, apreciando o cotidiano dos que dela se utilizam.
Obs. Imagem da internet