Esperança - A Última Viagem (Parte I)
Júlio era o mais engraçado.
Vivia rindo e fazendo rir.
Quando criança achou engraçado quando a casa de sua mãe foi invadida pelas águas da imensa maré alta que surgiu de repente numa noite de lua cheia.
Os móveis assim como os seus brinquedos de madeira ficaram encharcados e quase Perdidos.
A casa de pau a pique foi novamente reformada e colocada mais para cima do barranco.
Seus brinquedos adotados pelos vizinhos transformaram-se em novos heróis e sobreviveram.
Era alegre a despeito da miséria e da falta de sonhos de seus pais. Conformados com as situações difíceis colocavam no destino e na natureza o futuro de todos eles.
O menino ia sempre até o molhe de pedras para ver os grandes navios entrarem no canal de acesso ao porto.
Ali criou os seus sonhos de grande navegador como comandante dos imensos navios cargueiros abarrotados de contêineres.
Imaginava as grandes máquinas a 80 km por hora sob seu comando mar adentro.
Era ali também que via o seu pai, o mestre Rodrigão chegar com a baleeira cheia de pescados. Ora sardinhas, ora anchova s, robalos, tainhas, e peixe-espada.
Saia do molhe correndo, descalço, sobre a areia da praia acenando para o seu pai e os pescadores até que o barco se perdia de vista rio acima.
Divertia-se soltando pipas e jogando bola com os seus amigos.
Cresceu de frente para o mar e vivia olhando para o mar.
Não conseguia imaginar o seu futuro longe dele.
E assim o tempo passou e os grandes sonhos foram diminuindo de tamanho. A vida árdua trouxe-lhe as intempéries do tempo corporal.
De comandante dos grandes cargueiros já se conformaria em comandar a pequena baleeira de seu pai.
Em determinado dia Mestre Rodrigão, velho e com pouca visão achou que já era hora de passar o cargo e o Esperança para Júlio.
(Continua em Esperança - Parte II)