Avesso
Te ocultei tentando me encontrar, e não notei que tua pele era o meu espelho, que refletia meu o inverso. Teu punho concebia minhas letras, seu violino instigava minhas dores. Estive no meio das cinzas da nossa guerra, foi a primeira vez que essa força intangível invadiu meus poros, persuadindo meus sentidos, minha direção.
Desenho no escuro os traços da sua face que se dissipa com o tempo, e o cheiro da poeira de tuas vestes está por todas as paisagens. Te encontro em meus devaneios, como alguém que jamais vi, miragem particular disfarçada de luz. A ausência que me feriu, quando te vi no meu mundo utópico, fortalece meu calcanhar marcado por suas mãos.
Despi meu avesso pra ti, e teus passos oscilantes envergonharam minha nudez. O que era dor virou benção. Lapidei seu nome, te segurei entre multidões, e naquele lar seguro te deixei. Seu fantasma me assombrou por longas estações, mas quanto mais me encontro, mais sua ausência cria vida.
O véu sem cor que cobria meus olhos foi levado por essas tempestades. O punhal com rosas enterrado em minha alma, tinha gravado suas iniciais. Recordações negras, imersas profundamente em oceanos meus. O vento se direciona a mim com teus pedaços, unindo-se a canções suportáveis e assombrosas, trás lembranças que se apagam lentamente.