VERGONHA.COPA DO MUNDO.
Falou-se muito em vergonha nos últimos dias. Uns dizendo ter vergonha de serem brasileiros por obras da copa estarem sem conclusão, outros em sentido contrário. Quando temos vergonha é por ação ou omissão de atos que nos envergonhem, não por atos de terceiros.
São conceitos emitidos por “fenômenos” do futebol, compreende-se.
Esses chavões simplórios conceitualmente não dizem respeito à cidadania. Não posso ter vergonha por atos de terceiros, como dito, se os há, atos sem muita significação, ao menos para mim, se foram ou não concluídas obras de estádio e seus entornos.
Gosto muito de jogar futebol, e se não fosse por impedimento de meu pai enveredava por esse caminho, mas não gosto do que fizeram com o futebol. É tão bom no Brasil que jogador bom não fica aqui.
Nessa copa, estádio como o de Brasília surpreende, cidade que nem time de futebol com importância tem, e gastaram-se milhões para colocar a cidade no circuito da discutida copa.
Seria por nada tanta reação pública no país do futebol?
Não, hoje existe uma consciência mínima de cidadania e não é exacerbado dizer, que a constituinte de 1988 trouxe essa conscientização.
Do outro lado “do campo” a negativa de não existir vergonha nenhuma, pois a copa será um sucesso e as obras são suficientes.
Não tenho vergonha do exterior e suas avaliações, nada tenho com isso, nem com obras, nem com fotos que expõem as mazelas do Brasil e as rajadas de metralhadoras nas comunidades com os tiros saindo de fuzis das mãos de jogadores com a camisa da seleção, e rodam o mundo pela internet.
A vergonha tem raízes e visibilidade.
Tudo que pude fazer nos meus limites fiz e faço para melhorar na minha área de atuação, mas incomoda, sim, estar em um táxi em Roma, por exemplo, e o taxista ouvindo você falar em português (do Brasil) com a mulher perguntar se somos brasileiros e diante da afirmação que sim, e que temos dupla cidadania, italiana também, se sentir o motorista em casa e dizer a você “como pode existirem crianças abandonadas nas ruas do Rio em quantidade?”, e sem nenhuma vergonha poder responder ao conterrâneo, politizados como são os europeus, pergunte aos governantes brasileiros.