Árvore de Maio
Não sei exatamente porque as pessoas temem envelhecer. Na verdade, preciso confessar que já fui capturado por tal sobressalto, contudo bastou entender que era uma bobagem para não tornar a pensar no assunto.
Quando criança eu tinha uma coleção de medos. O medo de dormir sozinho e do escuro eram os mais básicos, diria que clássicos, pois tenho certeza de que metade do mundo sabe o que é tê-los. E a outra metade também!
Mas, havia um medo que era particularmente meu, apenas meu. Medo de quando o céu azul do dia, quase branquinho, ia se transformando no azul da tardinha. Eu tinha medo daquela hora do dia, porque na mistura do azul com o pretume da noite, tudo ficava triste, como uma despedida. Francamente, ainda continuo tendo medo da despedida.
Como 30 anos não chega tão de repente, como naquela comédia romântica, eu sei bem por onde caminhei e de quantas despedidas participei. Algumas, cedo demais. Não houve jeito, teve que ser no susto, sem nenhum preparo ou aviso prévio. No abrupto tive que aprender que determinadas rupturas são radicais e, sendo assim, não há mais tempo para corrigir, acrescentar e dizer...
Dizer que apesar do tempo, não deixei de ser o menino que teme a despedida.
“Maio já está no final”, diz a primeira estrofe da música. E o que sou afinal? Sou feito da saudade, da lágrima e da resignação. Sou homem crescido e forte. Queria que vocês estivessem aqui e pudessem me ver e se verem, já que há tanto de vocês em mim. Seria o melhor presente. Entretanto, eu sei o que significa o final.
Mesmo assim, como o antigo costume francês, plantarei um Maio, ou melhor: a Árvore de Maio. E ao redor dela dançarei e cantarei as alegrais de mais um ano.