JÁ FOI ASSIM...
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
– Olha o padeiro...
O pão sendo conduzido, a princípio, a pé, balaio nos ombros, ou de carrocinha; depois, de bicicleta. Três pães de sal aqui, meia dúzia ali, broinhas acolá. Eventualmente, também salgados na cacunda. O entregador de pão madrugava, e ainda trabalhava o dia inteiro.
– Olha o verdureiro...
A verdura, vendida de porta em porta. No balaio. E na sola do sapato. Ou mesmo sem calçado. Não se usava tênis nem se usavam sandálias havaianas. A Bonequinha Preta, de Alaíde Lisboa, cai da janela e cai justamente num cesto de alfaces.
– Olha o leiteiro...
O leite, numa carrocinha, medido na hora. A vasilha era sempre do comprador. É verdade que não se usava jaleco branco, mas o leite, sim, já era branco...
– Olha o frango...
Amarrados pelos pés e enfiados numa vara apoiada no ombro.
Era assim que os frangos vinham dependurados. Na manguara.
– Olha o pirulito...
Tabuleiro de doce de leite, caixa de pirulitos, cartuchos de amendoim torrado, e ovos. Rodilha de pano na cabeça apoia outra carga, uma bandeja de quitanda. Trabalhava-se noite adentro, à luz de lamparinas.
Olha o funileiro...
Que saía, de porta em porta, soldando vasilhas e apondo alça de folha-de-flandes a latas vazias.
– Olha o amolador...
Ao som característico da dança da lima com o esmeril o amolador de facas se anunciava aos fregueses. Não se usava a palavra cliente. Amolador de facas e de tudo o que corta: tesouras, alicates, para ficar tudo nos trinques. Bem afiado.
O esmeril do tempo esmerila o progresso, esse, sim, um cliente que não pede licença, e vai rompendo com o passado. Mudando os hábitos. Diluindo o romantismo. Cultuando o virtual. Veloz. Instantâneo. Mudando coisas, conceitos, gente. Mudando. Mudando para melhor ou para pior, pois nem tudo o que vem em nome do progresso vem para melhor. Ou se vem, precisa ser monitorado. Como no trânsito. O automóvel passou a valer mais do que as pessoas. Porque há valores que se invertem. E como!