Revista
Sentados à Praça Rosevelt, no Jardim Jurumirim, contemplavam o movimento absurdo da cidade. Eram 14h e mais alguns minutos, e as buzinas enfeitavam a metrópole. Maldita mixórdia de sons. Desfile imperioso de carros pela Avenida da Saudade.
Disse que estavam sentados, mas não disse quem eram. Um era rapaz de vinte anos. Comum dos nossos tempos e bem auferido em nossa era. Jeans e camiseta. E andava com um sorriso inocente, mas que denunciava lascívia, e de leve, uma ligeira malícia.
O outro, era o negociante da nova década. E escapava alguma impressão de atual média burguesia, pois tinha camisa social, mas não usava paletó. Usava cinto, mas usava jeans. Não usava tênis, mas usava sapato escuro.
E o outro... Bem, mais fácil descrever, era pipoqueiro, e também vendedor de algodão doce e falava alto.
Chega de cenários! Vamos aos fatos.
Folheavam uma revista imprópria. Acalmessem os moralistas, também priorizo o pudor, não vou transformar esta crônica num relato vulgar, o conteúdo é seguro.
Olharam a negra. Ê mulata linda... Pele chamuscada e que conduz os reflexos do desejo. Cabelos crespos, avolumados, caracóis lúbricos. Lábios e coxas grossas. Esse colo nobre de mulher. Bela mulher! Excelente carne.
Folhearam um pouco mais. Pararam numa morena de olhos verdes... Que olhos!... Não dava para passar como uma página comum, pois aquele fulgor de esmeralda capturou os olhares e estancou as mãos. ‘‘ Nossa, olha isso’’. Eram as mais puras das palavras que atribuíam àquela deusa impressa. Pois já disse, não vou eu maltratar o pudor e nem me deixar fugir a vergonha. Mas era linda de verdade.
Mais folhas e encontraram a loura com os olhos e lábios de mel. Boca fina e oferecida. Olhar traiçoeiro e sensual. E o corpo desenhado em encontro de linhas e relevos de curvas. Chega... Já falei demais...
Continuaram aquele passatempo cômico e obsceno bem no meio da cidade. Bem no centro dos horários. O rapaz se levantou.
- Aonde é que você vai? – Perguntou o pipoqueiro.
- Vou na lanchonete ali. – Apontou. – Vou convidar pra sair uma garçonete que tem lá. Há muito tempo eu queria fazer isso e só hoje tomei coragem.
- Ah! Você tá brincando. Vai troca essas daqui pela GARÇONETE!
A última palavra foi dita com tanto escárnio pelo negociante, que com uma nobre finura, o rapaz deu um tapa de luva e riu de desdenho.
- É claro que vou trocar. Porque aquela é de carne e osso, e não de papel.
Disse. Atravessou a rua e entrou na lanchonete. Sorte a ele e à moça namorada.