Turista é um bicho engraçado
Turista é um bicho engraçado. O gramado em frente ao Congresso Nacional fica tomado por eles, com suas indispensáveis máquinas fotográficas e, os mais afortunados, com seus tablets. Alguns vão acompanhados de famílias bem brasilienses e com elas se divertem descendo os morros laterais em cima de papelões. A maioria se concentra na rampa diante das torres do Congresso. É de lá que tiram as fotos para mostrar que estiveram em Brasília. Essas fotos são idênticas, sempre a família ou os namorados com as torres ao fundo. Raramente alguém tira foto apenas das torres. E, para ser sincero, raramente alguém presta atenção nas torres.
As pessoas apenas se postam diante delas e esperam que alguém as fotografe. Depois, caso sejam perguntadas sobre algum detalhe específico da arquitetura do Congresso, não saberão responder, pois sequer chegaram a observar direito, tão entretidas estavam em deixar para a eternidade uma marca da sua passagem pela capital do país. Em questão de instantes, a foto estará disponível nas redes sociais, onde ganhará a aprovação geral e todos concordarão que se trata de um lugar muito bonito, tão bonito que valeria a pena ser mais aproveitado enquanto estamos diante dele.
Mas os turistas não têm tempo para contemplações, estão sempre correndo, pois ainda há uma porção de lugares para conhecer, ou pelo menos para registrar uma prova de que lá estiveram. Não se imagina que entre eles possa existir um Henfil, que passou duas semanas como turista na China e não quis ver a Muralha. Pelo contrário, todos querem passar pelos lugares que todo turista passa mesmo, e em cada um deles tirar fotos com todas as combinações possíveis de pessoas (marido e mulher; marido e filho; marido e filha; mulher e filho; mulher e filha; filho e filha; marido, mulher e filho; marido, mulher e filha; e marido, mulher, filho e filha, ocasião em que se deve olhar ao redor atrás de alguém que tire a foto por nós).
É ou não é um bicho engraçado?