Aventuras no Conic
Veio com aquele papo de que precisava de dinheiro para comprar as fraldas das crianças. Menti que não tinha trocado, e para provar bati com as mãos no bolso da calça. Minhas chaves fizeram barulho de moedas. Decidi dar algumas moedinhas que tinha na mochila. Ele insinuou que eu devia ter notas. Menti que não tinha notas pequenas e ele disse “vamos ali trocar”. Era noite no Conic e ele caminhava ao meu lado.
Veio com aquele papo de que prefere pedir do que roubar. Garantiu que Deus iria me abençoar. Contou que tinha dois filhos e iria comprar as fraldas da Turma da Mônica. Ofereci-me para comprar as fraldas ao invés de dar o dinheiro. Fez que não ouviu. Depois disse em Planaltina era mais barato.
Chegamos a um boteco e o caixa não trocava nota de 50. Nem o boteco do lado – está cheio de botecos no Conic. Um freguês se ofereceu para ajudar. Pegou a nota e foi perguntar mais adiante. Foi se afastando, foi se afastando e nós achamos que iria fugir com a grana. Corremos atrás. Negou que fosse fugir, disse que era homem conhecido na região. “É ou não é?”, perguntou a um segurança de prédio que respondeu “você deve estar me confundindo”. Caminhávamos, os três.
Tentei pegar a nota de volta, mas ele negou: “Você me pediu pra trocar, eu vou trocar”. Além de tudo, era bem mais forte do que eu. De repente olhou para mim e perguntou: “És brasileiro?”. Respondi “sim”, como se fosse normal um brasileiro responder “sim” coloquialmente. Deu risada e começou a debochar: “Sim”. Era preciso trocar aquela nota.
Mais um boteco, mais uma negativa. Um senhor bebia a sua cerveja e concordou em ajudar. Tirou no bolso da camisa um maço cheio de notas e trocou a minha de 50. “Eu não falei pra você que trocava?”, disse o homem. Achei que iria pedir uma comissão, mas não, foi embora sem me atormentar. O homem das fraldas é que me levou para um canto e pediu a parte dele. É o que dá mentir, suspirei. E foi quando um bêbado apareceu, também querendo fechar negócio.