O ANONIMATO
O anonimato tem como antro o espectro da covardia.
E não poderia ser dessemelhante. É um sábio na casa alheia que vende seu peixe para seus interesses.
Por um mísero centavo, ele desenha seus iguais num quadro deformado de mentiras indignas. Ainda, para o seu prazer, dá os últimos retoques com pincel envenenado sem nunca assinar.
Usa da falsa sinceridade em alto e bom som para não ser descoberto de sua cultura quixotesca de um vazio filosofastro.
Mas é risível! Esses tem valor. Esses são os bons. Esses nunca são vítimas.
São o centro das atrações banhados a vinho tinto.
É a mais pura verdade. O anonimato não perde o cinismo por um segundo, pois um centavo vale áureo de peso. Nunca se arrepende de torturar seu próximo na primeira esquina.
Reina absoluto como Luís XIV: “ l’etat c’est moi "! Incondicional sobre tudo e todos.
Venera o “eu” encastelado, e, da segunda pessoa em diante do verbo, as vê como suas vítimas.
Portanto, para essa rara espécie de patifes que se esquivam de serem julgados, resta a leitura endeusada de Arthur Schopenhauer, enquanto o Sol quente do Inferno não surgir do acaso, também, do anonimato.