A minha candidata à Presidência

A MINHA CANDIDATA À PRESIDÊNCIA

(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 21.05.14)

Declaro com toda a solenidade que tenho, sim, candidata à Presidência e que estou fazendo campanha aberta em favor do seu nome. Quero, assim, deixar bem clara a minha posição para que não se diga depois que fiquei em cima do muro ao invés de assumir uma postura límpida e inequívoca.

Antes de prosseguir, porém, necessito operar uma digressão mais ou menos longa:

Como sabem algumas pessoas, faço parte do Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina, sentado à cadeira destinada aos escritores catarinenses. Desse assento escutei, atento, as palavras proferidas pelo novel secretário de Turismo, Cultura e Esporte, o sexto da linhagem neste curto período governamental de menos de três anos e meio. Mas a culpa disso, convenhamos, não é do sr. Filipe Freitas Mello, o secretário em questão. O fato se deu no dia 22 de abril passado (completar-se-á amanhã um mês daquela ilustre visita) e tive o cuidado de anotar em minha cadernetinha as principais frases ditas por Sua Excelência do alto da sua juventude.

Disse S. Ex.ª que chegava com dois objetivos: inaugurar um novo momento, quando estaria absolutamente presente na Fundação Catarinense de Cultura e no Conselho (até hoje não mais voltou a nenhum dos dois órgãos - isto não é intriga, mas um fato), e, segundo, buscar um nome para a Presidência da Fundação, vaga desde julho de 2013, um nome que fosse menos ligado à Cultura e mais propriamente um gestor. Parece que não encontrou ainda esse nome, posto que continua, ele, sem tempo para respirar, acumulando as funções de secretário do turismo, da cultura e do esporte, e de presidente da fundação cultural. É humanamente impossível desempenhar tantos papeis simultaneamente.

Ora, é estranha essa situação. Como que não existe esse nome ideal para a Fundação? Ele mesmo dispõe a seu lado, tratando cotidianamente de assuntos correlatos, dessa pessoa. A sra. Mary Elizabeth Benedet Garcia tem nome de rainhas mas é a presidenta perfeita para a Fundação, da qual já é diretora de uma área fim (Difusão Cultural), tem longa experiência na gestão pública, dispõe de profundo e inabalável respaldo político e conta com a simpatia de vasta parcela dos agentes culturais que militam no Estado. Ela, a minha candidata à Presidência, precisa ser imediatamente nomeada para a função que, vaga como se encontra, só dificulta cada vez mais a atividade cultural em Santa Catarina.

Adicionalmente, a nomeação da sra. Mary Benedet resolverá um problema crucial no Conselho, do qual, aliás, ela é a presidenta. Acontece que, certo dia, alguém (ninguém nunca soube quem foi) induziu a erro o governador, que acabou por exonerar o conselheiro Carlos Holbein de Menezes achando que era cargo de confiança, quando se tratava de mandato intocável. Tão intocável que a Justiça determinou, por liminar, a sua reintegração ao Colegiado. O problema é que já havia sido nomeado outro conselheiro para o lugar do sr. Menezes. Os lugares no Conselho são limitados a 21 cadeiras. Ocorre, porém, que o presidente da Fundação é membro nato do Conselho, como secretário-geral. Assim, nomeada presidenta da Fundação, Mary deixaria a Presidência e passaria à Secretaria do Conselho, abrindo a necessária vaga para reabrigar o Carlos.

Seriamente, sem brincadeira nem qualquer ironia, aposto que, se convidada, a minha candidata à Presidência, pela qual torço entusiástica e desesperadamente, haverá de pensar um bocado e, ao cabo, aceitar a magna tarefa. Para gáudio nosso.

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Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 26 de agosto de 2013 integra o Conselho Estadual de Cultura, na vaga destinada à Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 32.

(...) aquele 1965 em que éramos jovens, românticos e puros. Incontaminadamente puros. (...) Havia uma visão do coletivo, que hoje se perdeu, como também se extraviou (ou até soa ridícula) aquele ideia de "salvar a pátria", de interessar-se pelos problemas do País e do mundo porque eles habitavam nossa consciência.

Flávio Tavares, Memórias do Esquecimento