Passar o aniversário sozinho
Ele tinha direito a algumas horas de folga e foi precisamente por isso que sugeriram a ele que as tirasse na manhã do dia de seu aniversário. Não tinham como dar a ele o dia inteiro porque na parte da tarde estava prevista uma reunião importante e a equipe já estaria desfalcada. A princípio pensou em recusar em oferta, pois não lhe ocorria programa algum que pudesse fazer pela manhã. Acabou aceitando, em parte para que não descobrissem que levava uma vida tão vazia que nem mesmo tinha algo para preencher o seu próprio aniversário.
Estava na cidade há poucos meses, morava sozinho em uma pensão e ainda não havia feito amizades significativas. Mesmo que conhecesse alguém, é pouco provável que estivesse livre para fazer algo em plena manhã de um dia de semana. Absolutamente não queria gastar essas horas dormindo – sentia que assim desperdiçaria um dia especial. Precisava sair de casa, mas não lhe ocorria lugar algum para ir. Os cinemas ainda estavam fechados, os pontos turísticos ele já conhecia todos, o sol estava pouco convidativo para uma caminhada no parque. Se ele ao menos tivesse Internet em casa! Mas já fazia alguns dias que não conseguia acessar a rede sem fio do vizinho.
Deixou-se ficar na cama, acordado, olhando para o teto e lembrando de aniversários melhores. Se ainda estivesse na casa dos pais, seria acordado com um café da manhã surpresa, embora tão tradicional que surpresa seria ficar sem ele. Mas foi preciso crescer, fazer as próprias escolhas e arcar com as consequências – como esta de passar o aniversário sozinho.
Ligou a televisão e se espantou por não encontrar mais desenhos animados de manhã. Com o barulho, a pensionista deu-se conta de que ele não havia ido trabalhar. Bateu à sua porta e perguntou se ele estava doente – ela está na idade em que o único motivo para faltar ao trabalho é doença. Teve vontade de dizer que sim, estava muito doente. Mas achou que ela dificilmente teria remédio para a sua nostalgia.