Linha Amarela do Metrô

Cinco e meia. Não estamos no horário de verão. Vivemos naquele período intermediário entre o final do estio e o início seco do outono, depois do dia quinze de março. Apenas digo isso para que quem leia possa imaginar que o dia já começa a escurecer nesses instantes, e o crepúsculo pinta torrentes anis que rasgam o azulão do céu paulista.

O menino estava com aqueles impulsos elétricos que o corpo de uma criança responde aos instintos puros da imaginação e a doce inquietação de uma alma casta que não quer enegrecer num mundo cético. E a mãe repreendia.

- Para com isso!

O garoto se acocorou e pôs-se a examinar o chão com as mãos, como se seus olhos tivessem faculdades microscópicas, e apenas sentindo o gelado cimento do piso, ele pudesse identificar as vidas parasitas de vermes que ali estivessem. E a mãe lhe puxa o braço pela mão.

- Tira a mão do chão! O chão é sujo!

O moleque se quieta por instantes. Passa a andar de um lado e outro, como se pensasse no que viria a seguir. E antes que pudesse ter algum alento travesso, ele escuta o timbre que sempre lhe censura.

- Fica atrás da linha amarela.

- Por quê? – Perguntou o garoto, com o indicador na boca e o olhar ingênuo.

- Porque não interessa, é perigoso!

O garotinho parou e ficou observando a frente que lhe era separado pela misteriosa linha amarela do metrô. Mas a questão lhe fazia prurir às ideias. O que será que acontece se alguém se meter a atravessar a linha amarela?...

Vejamos... Será que dispara um alarme e as luzes do metrô se apagam, de repente tudo fica vermelho, e uma voz do infinito detecta o alerta de um intruso?

Será que é um campo minado, que se for atravessado, vai acionar explosivos tão minúsculos do tamanho de um micróbio, que ninguém pode ver? Talvez...

Ou será que se pisa no território de um monstro inimigo. E ele vai levantar desse vão, exalar um hálito pútrido, e me perguntar bem de frente: Por que você atravessou a linha amarela?

Também pode ser que se passar da linha amarela, esse túnel negro que se estende, possa engolir quem se aproxima e essa linha cabalística apenas protege as pessoas de não serem sugadas por aquele vácuo cruel...

Quebrando a linha de pensamento, um ruído maquinal aproximava-se de gradação em gradação. O menino paralisou-se e ficou a observar a chegada daquela toupeira de ferro. Finalmente saberia o porquê não deve atravessar a linha amarela.

- Não mãe!

O garoto parou a mulher quando esta se dirigia para o embarque.

- O que foi menino?

- Você quase passou da linha amarela.