Nosso Dialeto

Enquanto me dirigia ao hospital, naquela manhã, nossa ultima manhã juntos, mergulhava minha esperança no mar bravio da incerteza.

Depois de duas noites e dois dias sem deixá-lo, um instante sequer, atendi aos seus apelos e fui dormir em casa .

Havia tomado um longo banho, lavado meus cabelos, escolhido um brinco pequenino ( "Charmosos, Vivian, discretamente charmosos !" ), pincelado os lóbulos de minhas orelhas com Innamoratta ( "Sei que você tem um frasco quase cheio, querida... mas trouxe outro !" ), preparando-me para você.

Um bom copo de leite ( " Novamente bebendo leite sem ferver, menina!" ), uma olhada rápida pela casa silenciosa, e fui ao seu encontro.

Sem pensar em dor... !!!

Um "Bom Dia" ao rapaz da portaria , um sorriso coletivo aos amigos que esperavam por notícias na impossibilidade de trocar olhares e palavras de amor com você... passos largos e rápidos.

Queria... precisava estar com você, aguerridamente, desfazendo os nódulos de dor que tatuavam minha alma.

Bolsa marrom ( " Minha mulher é uma dama ! " ) colocada desassistida sobre o pequeno sofá de couro preto , descansei meus braços nos ferros gelados da cama...e nossos olhos se encontraram.

Nenhuma palavra...só nossa linguagem muda, nosso dialeto, nós...só nós.

Quantos minutos "conversamos" ? Dois ? Cinco ? Vinte ? Mil ?

Meus olhos não se cansavam de falar...e os seus de me ouvir.

" Meu Bem, me produzi pra você ! " sussurrei .

Meus olhos se calaram... e os seus continuaram a solfejar-me canções de amor.

Ouvir seus olhos sempre foi meu maior encanto.

Quantas vezes, amor meu, nas liturgias da vida, você me segredava tantas coisas com eles - os mais doces e lindos olhos castanhos que passaram por mim.

Eu respondia...respondia...ouvia...refletia...calava...

ouvia...respondia.

E você, falava...ouvia...respondia...murmurava.

Naquela nossa última manhã eles me disseram:

"Eu sempre amei você !"

E os meus responderam :

"Eu sempre amarei você !"

Vivian
Enviado por Vivian em 06/09/2005
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