Uma leitura barata sobre o fim do mundo

Eu tenho pensado muito no fim do mundo. Não com medo, ou com receio, apenas refletindo sobre algo inevitável. Nem digo que seria algo a acontecer amanhã, daqui cem anos ou bilhões deles quando, rigorosamente, o sol se apagar. A humanidade pode acabar antes desse ponto final, ou mesmo continuar depois do evento solar, caso consiga habitar outros planetas, quiçá outras galáxias. O universo é muito grande pra gente se fechar no planetinha azul. Eu tenho uma teoria de que a estupidez do homem vai acabar com a raça inteira. Homem gênero, ou espécie, não sei dizer. O primeiro é mais provável.

Explico: tem gente que não tem noção das suas grandiosidades. Querem sempre mais e da pior maneira possível. Exemplo: bomba atômica. Causa: conquista. Vai haver uma época em que, sem querer, acredito, criar-se-á algo tão poderoso em mãos tão inábeis que podem acabar por explodir por qualquer bobeira. Aí está: uma raça inteira de narcisistas que acabou por uma bobeira. Duas, a primeira foi construir algo tão potente para um fim egoísta.

Egoísmo. Uma palavra que explica bem o comportamento das pessoas. Enquanto outras espécies coexistem, o homem apenas existe e não está nem aí pro seu redor. Não vou dizer em meio a tramas de hipocrisia que eu não faço isso. Talvez eu faça, não sei, é difícil olhar pra si mesmo e auto-julgar. Mas se sabe que tem outros tantos piores por aí e com muito mais poder que eu.

Poder. Uma vez ouvi que poder não existe, que é uma invenção para os gananciosos terem um motivo de assim o serem. Faz sentido, por um lado. Por outro, é o que aperta muitos dos laços. Pode ser qualquer coisa, dinheiro, influência, um segredo, uma dívida. Existem muitas formas de poder, e abstrair a existência delas faz do mundo sem sentido.

Mundo. Voltamos no começo desse texto. A estupidez, se tudo der certo, fará com que apenas as baratas sejam soberanas do planeta terra. Os outros bichos que coexistem, inocentes, perecerão. Bichos esses que, diferente dos homens, não têm noção da morte. Vivem e um dia não vivem mais. Eu e você encanamos com períodos de vida e com o final dela. Gosto de duas teorias: a de que as pessoas mudam a cada sete anos, porque é o tempo necessário para que todas as células do seu corpo se transformem em outras, então, literalmente, você É outra pessoa; bem como a teoria dos quinze anos, que divide a vida em ciclos quinzenais: a primeira fase do zero aos quinze, a segunda dos quinze aos trinta, a terceira dos trinta aos quarenta e cinco e a quarta dos quarenta e cinco aos sessenta - o que vier depois disso é lucro até a inevitável morte.

Morte. Acontece com todo ser vivo. Pensa-se em legado, o que será deixado, seja em obra, seja em perpetuar a espécie com filhos, seja uma herança, seja um suicídio. É uma preocupação constante que ramifica em tantas outras: estudos, trabalho, filhos, dinheiro, casa, felicidade, produção artística; qualquer coisa se quer deixar para gerações futuras, inclusive um nada. Quando na verdade, muitas vezes, se é só mais um nome gravado num túmulo. Não que seja um problema, repito que não tem como fugir. Resta saber como chegou lá. Se é o morto que foi mais feliz em vida, o mais inteligente, o com o melhor corpo, o que fez coisas boas, o que fez de ruim ou deixou de fazer. Vocês sabem que é preciso saber viver. Como os animais, que são abençoados com essa falta de consciência mortífera e vivem o presente o quanto puder.

Presente. Há tanto a ser feito que muitas vezes não se faz nada, seja preso pelas mordaças do passado, seja temendo o pântano do futuro. A pior coisa é não fazer nada e ficar parado. Algo tem de ser feito pois o relógio corre e o tempo é um cobrador implacável.

Tempo. Algo tão relativo. O homem não viveu na terra nem metade do tempo que viveram os dinossauros e está se encaminhando para seu próprio fim, irônica e ativamente. Uma vida mesmo, sendo otimista, pode chegar aos cem anos, e isso não é nada na cronologia do universo, com suas escalas bilionárias. E mesmo assim, nos achamos melhores que todos por termos o privilégio de estarmos vivos hoje. Quando na verdade, somos insignificantes e o nosso nascimento é altamente improvável. Por essas e outras, que só aumentariam o texto, temos tanta dificuldade em simplesmente viver o que se tem no presente, algo que tanto nos orgulhamos mas que pouco sabemos fazer. Chega a ser engraçado. E então um dia você percebe que dez anos ficaram para trás. Ninguém te disse quando correr, você perdeu o tiro de largada. É o trabalho de uma vida inteira.

-G-

GaP
Enviado por GaP em 19/05/2014
Código do texto: T4812683
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