MUDANÇA
Todos os dias o jornal Bom Dia São Paulo, trás no bloco – TUDO ANORMAL – a série de desmandos do governo, nas três esferas, (municipal, estadual e federal) e quando aparece um testa de ferro do gestor (ir) responsável para explicar, sem nunca justificar, a falha, fica no ar a promessa que na próxima semana, o problema será resolvido e que, o motivo, sempre, é creditado ao processo licitatório.
Alagamentos, buracos no asfalto, árvores caídas, falta de iluminação pública, fios furtados, atraso na perícia de acidentes de trânsito ou de assassinatos, falta de médicos e de medicamentos nos postos de saúde, tráfico e usuários de drogas, invasão de prédios ou de terrenos públicos e privados, engarrafamentos homéricos, semáforos que nunca funcionam nos momentos em que eles são mais necessários, assaltos em vias públicas, a estabelecimentos comerciais ou residências, explosões de caixas eletrônicos, furtos e roubos de veículos, atraso na entrega de fardamento e de material escolar...
A lista é interminável e diante dela, ainda que nos fale o poder para solucionar os problemas, salta aos olhos o acúmulo e o desvio de funções.
Quem tem mais de trinta anos deve lembrar que em todo janeiro, ouvia os pais comentar sobre os preços do material escolar, do fardamento, da condução, do aumento da mensalidade escolar por causa do lanche coletivo fornecido pelas escolas e, principalmente, da gozação por causa do pé que havia crescido bastante de um ano para outro.
Era comum ouvir a nossa mãe dizer ao atendente da sapataria – Por favor moço, arranje uma lancha para esse pé...
Quando alguém adoecia, ou era atendido pelo médico particular, ou conhecido da família ou mesmo nos postos de saúde e vinha de lá, com a receita ou a solicitação de exame para as providências.
Os pais eram responsáveis pelos filhos e pelos atos deles.
Adultos vagando pelas ruas em horário comercial, tinham que portar a carteira de trabalho a fim de comprovar, durante uma abordagem policial, que não era vagabundo.
Várias empresas de ônibus exploravam a mesma linha em concorrência, no salutar livre mercado, onde ganha mais quem trabalha melhor.
Quando a empresa não fornecia, o empregado levava a marmita de casa para comer na hora do almoço.
As gestantes providenciavam o enxoval e muitas (quando o dinheiro estava curto) faziam o chá de bebê, para ganhar dos amigos o que ainda lhe faltava.
Antes o governo era obrigado a cuidar da infraestrutura, da segurança, da iluminação das vias, fornecimento de água e esgoto, abertura e conservação de vias, da escola pública, controle dos serviços oferecidos à população pelos concessionários etc.
Mas isso mudou, porque agora:
- As gestantes devem receber o enxoval para o bebê no posto de saúde onde fez o pré-natal;
- As crianças nascidas em maternidades já saem de lá com a certidão de nascimento, sem custo para os pais e antes de completar seis meses de vida, já podem ser deixadas nas creches municipais (quando tem vaga) sem qualquer custo para as mães que, em grande número, voltam para casa para dormir ou encher a rua de perna;
- Educação doméstica passou a ser atribuição do Estado;
- Saídas das creches, as crianças têm (como sempre tiveram) direito ao ensino gratuito em todos os níveis;
- Os professores não podem repreender ou reprovar os alunos que cometam alguma infração ou que estejam inaptos para cursar a série seguinte;
- As tabuadas e as cartilhas foram abolidas e o material escolar, composto de fardamento, sapato, meia, agasalho, livros, cadernos, lápis, borracha, caneta, régua, compasso, esquadro... é também distribuído, sem custo, para os pais;
- A merenda escolar, com até três refeições por dia, também é gratuita...
Diante de tudo isso, somos forçados a pensar que o Estado Brasileiro deixou de ser uma nação para se transformar num campo de concentração, onde as pessoas devem receber tudo o que foi pré-determinado nos gabinetes, tudo pronto e não podem ter iniciativa nem serem donas de suas vontades.
O Estado usa parte dos impostos para providenciar por licitações duvidosas, definidas à base de propinas, e por preços superfaturados tudo aquilo que antes cabia aos chefes de família.
Há um pensamento que preconiza “se você me ajuda, eu me sento; se você faz por mim, eu me deito”.
E é isso que está acontecendo. Os casais não são mais responsáveis pelos filhos, não podem mais punir os maus feitos porque o ECA proíbe. Qualquer coisa é motivo bastante para denuncias, processos etc.
Adolescente não pode mais trabalhar antes dos dezoito anos e se alguém exigir que esse marmanjo faça algo, pode ser processado por constrangimento.
Em todos os tempos, no período escolar, sempre houve infestação de piolho (Pediculus humanus capitis) que, como o nome científico esclarece, se instala nas cabeças das crianças, as quais eram mandadas para casa, com um bilhete para o responsável, avisando que a criança somente seria aceita quando a cabeça estivesse livre dos parasitas.
Hoje se alguém disser que tal ou qual criança está com piolho, fatalmente será processado por constrangimento.
O ECA garante esse “direito” do sujeito ser um piolhento, afinal Bob Marley também era...
Hoje a hipocrisia generalizada do “politicamente correto” está formando uma geração de marginais. Pequenos deuses intocáveis que se transformarão em déspotas ferozes diante da menor contrariedade.
Aquela máxima do festejado presidente dos norte-americanos, John F. Kennedy, “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país” deve ser levada em consideração antes que todos os ideais de pátria livre e povo soberano sejam solapados pelo paternalismo oficial, para que possamos viver numa pátria onde o cidadão obedece e exige obediência às Leis, e se entende como o único responsável pelos seus atos e onde o Estado é, tão somente, o balizador das normas sociais.