Regressão do ensino brasileiro:Machado de Assis em versão “facilitada”

Joaquim Maria Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos, era filho de mulatos, sendo o seu pai, o operário 
Francisco José de Assis  e sua mãe, a  lavadeira  Dona Maria Leopoldina Machado de Assis, que morreu muito cedo e em tenra idade fora criado por sua madrasta Maria  Inês, também mulata, a qual dedicou ao menino, matriculando-o na escola pública, única que frequentará o autodidata Machado de Assis, que para ajudar nas despesas da casa vendia doces.

Além da falta de recursos financeiros, Machado de Assis tinha uma saúde frágil, era epilético e gago. Sua instrução veio por conta própria devido ao interesse que tinha em todos os tipos de leitura. Graças a seu talento e a uma enorme força de vontade, superou todas essas dificuldades e tornou-se em um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos e mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender.

Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Já aos 16 anos de idade publicou o seus primeiros versos no Jornal “A Marmota” e então não parou de se dedicar a literatura escrevendo romances, contos, poesias, peças de teatro, inúmeras críticas, crônicas e correspondências, reunindo assim os pré-requisitos da genialidade, incorporando em suas obras a exuberância, concisão e uma visão irônica ímpar do mundo.

Machado de Assis é considerado um homem acima de seu tempo, e voltando aos tempos atuais, na edição da Revista Veja 2373 de 14 de maio de 2014, em sua capa, destaca os” Superpoderes da Leitura” descrevendo que ler ficção cria bons estudantes, melhora a capacidade de relacionamento e ativa lugares certos do cérebro. A reportagem de capa faz menção ao livro “A Culpa é da Estrelas” do escritor americano John Green que transformou em fenômeno da atual literatura para jovens.

Mas o que tem a ver com Machado de Assis? Bem, aos que usaram os superpoderes da leitura, leram que todos os jovens entrevistados por VEJA descreveram que já leram e releram obras de Machados de Assis e que foi fundamental para alcançarem êxito em cursos concorridos das prestigiadas Universidades de Harvard, ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Unicamp e Stanford.

Noutro norte, em um universo paralelo que separa a mediocridade e a inteligência, tem outros milhares e milhares de jovens com preguiça mental, os ditos acomodados virtuais, sofrendo de déficit de informação devido ao excesso de informação. É uma geração confusa que nada de braçada à atual forma de aprendizado que em "lugar de elevar o nível do nosso ensino, em todos os graus, há um triste esforço para reduzir tudo ao mais elementar, ao mais primário”, como diz a escritora Lya Luft.

E seguindo esta linha de raciocínio, a escritora Patrícia Secco re(lança) em junho o conto machadiano “O Alienista” alterando a construção das frases, num intuito de simplificar o entendimento da obra, trocando palavras difíceis por outras mais fáceis, além de alterar a pontuação característica de Machado de Assis. 

Trata-se de um projeto teratológico financiado pelo Ministério da Cultura, submetido à lei Rouanet em 2008 que banca a edição de centenas de milhares de livros de autores clássicos brasileiros “facilitado”, começando por Machado de Assis.

Sustenta a escritora que os jovens não gostam de Machado de Assis e que os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase e que as construções são muito longas devendo assim serem simplicadas.

Que ferramenta maravilhosa é o dicionário, caríssimos jovens. Talvez se soubessem manuseá-lo tal discussão seria banida e enriqueceriam em muito o seu vocabulário aprendendo  com o intocável escritor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
 
Não venham falar que tal “facilitação” é necessária, levando em consideração que muitos dos jovens nos tempos atuais entram e saem da faculdade desconhecendo ortografia. Desculpas esdrúxulas  de falta de oportunidade, de política de cotas, de acessibilidade ao ensino superior de isso e de aquilo, não me convencem, pois quem leu o inicio do texto percebeu que Machado de Assis, era pobre, negro, epilético, frequentou só escola pública e mesmo assim se destacou no cenário nacional.

A análise psicológica e crítica social de Machado de Assis vai além de seu tempo e não é a toa que a obra inicial escolhida fora “O Alienista”, talvez a escritora que o reinventou seja a reencarnação do personagem Simão Bacamarte e queira instalar no sistema educacional brasileiro uma Casa Verde repleta de jovens alienados.

Renata Rodrigues
Renata Rodrigues
Enviado por Renata Rodrigues em 18/05/2014
Reeditado em 18/05/2014
Código do texto: T4811032
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