AMOR, FÉ E ESPERANÇA
Tão fácil jogar responsabilidade para os outros, não é mesmo? Olhar para o outro e dizer: Jesus te ama! Por que não dizer: Eu te amo? Falar pelos outros é mais fácil, dizer do outro é mais fácil: Deus tem um plano para sua vida. E você, que plano tem para sua vida e para a vida do outro?
Fácil dizer, difícil de ver ações concretas, humanas, tratamento de pessoa para pessoa, de forma humanizada, plausível, com a finalidade de minimizar as diferenças, as dores do ser humano, as mazelas que nos acarretam a distância, o desprezo, a falta de entendimento e de saber cuidar melhor um do outro.
Hoje ouvi uma fala que dizia da importância do amor, da fé e da esperança para uma vida mais íntegra, mais recheada de realizações e respeito humano. Algumas coisas me fizeram ficar em reflexão porque provocaram um desacordo com os meus pensamentos. Acredito no amor como combustível para a vida. Nessa força motriz, apta a enviar flores e chocolates, de olhar no olho e falar de amor. Independente da relação: parental, de amizade, social, de desconhecidos...
O amor que cria elos, que nos faz responsáveis pelo que cativamos, pomos no mundo, temos elos de sangue ou criamos elos no coração, pela convivência ou demais razões. O amor atitude concreta, existente por mim, pelo outro, pelos outros, individual e coletivo. Aquela certeza de apertos de mãos, abraços de responsabilidades. Se te pus no mundo, não foi de forma inconsequente, mas planejada e agora sou responsável pela sua educação, sua formação, sua atitude e seu caráter. Necessito dizer não na hora certa e sim na hora conveniente.
Fé? Nada de fé no abstrato, mas fé no homem. Preciso acreditar nas minhas capacidades e nada de deixar o irracional, animalesco, instintivo, tomar de conta de minhas faculdades de pensar, sentir e agir. Fé no outro, na relação de interação, de convivência. Perco a fé em mim e não tenho fé em você, que me vejo, que te vejo, como depositar planos no além que não vejo, não escuto, não paga minhas contas diárias?
Que não me atirem pedras os tolos, nem façam de mim um herege qualquer, porque sou humano e tenho capto, cérebro, para questionar acerca das coisas da vida. Nada de dizer assim seja para os que falam de amor e passam o tempo a querer tirar os ciscos dos olhos dos outros quando não enxergam nada, vivem de hipocrisia e de pseudosconceitos. A esperança não é verde, mas é ver de perto o que se faz distante. Sem ela ninguém sai para comprar pão na esquina ou passa o dia esperando a noite chegar.
Tenho para mim que a esperança seja o ato de estar vivo e acreditar na possibilidade de mudança e de dias melhores: respeito às individualidades e gratidão ao coletivo, sem pré-julgamento ou condição para a sociointeração. Quebrar os modelos piramidais de organização social e distribuir o poder por igual. Eu posso, você pode, nós podemos porque somos o poder que emana de atitudes civilizadas, consistentes, respeitosas. A esperança é, na verdade, o respeito que temos por aqueles que somos capazes de olhar no olho, apertar na mão e aconchegar no abraço, sem restrição de qualquer natureza.
Parece discurso demagogo, mas não é. É possibilidade de se pensar na condição para ser humano. Amor, fé e esperança são ingredientes para se viver, não em um mundo platônico, mas concreto. Quem tem que dizer que ama o semelhante é você por você, talvez por palavras, mas muito mais por gestos de gentileza, de convivência, de respeito e participação na vida, tornando a fé para o fortalecimento do coletivo, sem a transferência de responsabilidade, mas assumindo responsabilidades, dizendo ser responsável pelas ações do mundo, do equilíbrio ambiental à erradicação das catástrofes sociais, e assim deixar a esperança resplandecer de várias cores porque o homem criou a possibilidade da comunhão quando resolveu viver em comum unidade.