Medo
Quando o invisível e não palpável precisa do concreto para se estabelecer, o subjetivo incorpora alguém.
As sensações mentalmente impressas na imaginação formam-se e materializam-se nos que as deixam dominar pela insegurança que lhes impõe. As manifestações instintivas movem-se pelo impulso da vontade, com ou sem razão. As sensações emotivas são indomáveis, como o pensamento. A vontade é controlável; o pensamento não. Coisa orgânica é a vontade que, saciada, perde o sentido. O pensamento é autônomo e nele estão contidos o desejável e o indesejável. Não depende da vontade nem se move pelo impulso. O pensamento é subjetivo e vaga pelas mentes até apoiar-se num suposto objetivo a materializar-se. Assim é a tristeza, a alegria, a inveja, a saudade, o ódio, o amor, o medo. Tudo isso só existe, concretamente, se alguém o sentir. É só na posse da mente que o subjetivo se materializa num corpo.
Dizem que o tamanho do medo é dado por quem o sente. Ódio e amor também. Mas tem muito a ver com a importância que se dá a alguém ou alguma insegurança suprida com o outro. O medo ainda é pior; ele se acentua em alguém que se deixa intimidar pela suposta ascendência do outro. O medo só atemoriza o fraco; desiste do forte que o enfrenta. Arrefecer diante da ousadia de um “corajoso” é dar-lhe munição para o combate. Só o destemido não se intimida com a falsa ascendência do “valente”. Enfrentá-lo, sem medo, é a melhor forma de desarmá-lo. Coragem não é força; é a espada da decisão. Não há invencível ousadia para quem não a teme. Coragem é a arma que combate o medo e desarma o cagão covarde.