Guarani

Eu sou de uma opinião, que todos aqueles que sabem, por ter visto, ouvido ou lido, coisas do nosso futebol, deveriam escrever para que não se perdessem essas informações do passado de nossos clubes, seleções, ou jogadores. Pois se depender da crônica esportiva de hoje, a tendência, com raras exceções, é de que tudo vá ser enterrado.

Hoje, parte considerável da crônica esportiva faz muito bem o papel de transformar jogadores medianos em craques, depois de umas três partidas bem jogadas. Dai são transferidos para clubes europeus, onde muitas vezes não vingam. E muito cedo estão de volta, uma vez que muito do que foi apregoado sobre o jogador não existia de fato.

Então, vamos mais uma vez falar de belas páginas do futebol do passado. Eu, com 10 anos de idade era aprendiz de barbeiro e o oficial do salão era o senhor Romeu Mantovaneli, que também era representante da Federação Paulista de Futebol. E para quase todas as partidas realizadas em Campinas ele era escalado como representante.

Estávamos no ano de 1944 e o Guarani F. C. tinha um grande time e eu ia com o senhor Romeu no velho campo do Guarani, na Rua Barão Geraldo de Rezende, era o estádio que ficou conhecido com o apelido de “Pastinho”, bem perto da fábrica de chapéus Cury. Assisti com o senhor Romeu muitos jogos do Guarani em que o Bugre campineiro foi campeão do interior.

O profissionalismo não tinha chegado ao interior de São Paulo. Mas não pensem que era fácil ser campeão do Interior. No ano anterior, o Bugre perdeu a final do campeonato amador do estado para o Noroeste de Bauru.

Nesse mesmo 1943, o Guarani conseguia o seu tricampeonato Campineiro. Em 1944, o bugre não foi muito bem no torneio da L. C. F. e chegou na terceira posição. A Campeã foi a equipe da A. A. Ponte Preta.

Mas no torneio amador do estado de 1944 o bugre estava, de novo, presente e para ser campeão amador do estado o Guarani derrotou, nas finais, a equipe do São Bento, de Marília. Pra uma equipe ser campeã campineira tinha de passar por muitos obstáculos como as equipes da Ponte Preta, do Mogiana, do Corinthians, do Guanabara, e do Campinas. Não tinha moleza, não. Todos tinham o mesmo objetivo. Era uma pedreira a cada domingo.

Passada a fase de Campinas, com os demais clubes do interior era a mesma coisa. Todos iam até São Paulo buscar jogadores de bom nível. Todos tinham atrás de si uma retaguarda forte como prefeitos, políticos e banqueiros (banqueiros mesmo, não de jogo de bicho).

Mas voltando ao ano de 1944. O Guarani foi Campeão do Interior e ainda teve de disputar com o Campeão amador da Capital, uma melhor de três jogos. Muitas vezes o campeão Amador da Capital era o L.P.B. (Laboratório Paulista de Biologia), que sempre tinha e revelava grandes jogadores, como por exemplo, Rubens Minelli e Mário Travaglini, e outros, que iam direto para os Clubes profissionais da Capital (estes eram o Palmeiras, o Corinthians, o São Paulo, a Portuguesa de Esportes, o Juventus, o Nacional, o Comercial da Capital, o Ypiranga e mais os times de Santos, o Santos a Portuguesa Santista e o Jabaquara). Nesse ano, o campeão Amador da Capital foi o time de amadores da S. E. Palmeiras.

O Guarani foi Campeão Paulista Amador, de 1944, levando a melhor sobre o Palmeiras, com duas vitórias (a segunda delas no Pacaembu), formando com a equipe base: Renê, Nenê e Tiziani; Fricote, Silva e Pavuna; Renatinho, Piolim, Zuza, Caio e Machadinho.

Foi a primeira vez que um clube amador do Interior conquistava também o título de Campeão Amador do Estado. O grande destaque era Zuza que havia jogado antes pelo Palestra Itália e pelo Corinthians. Zuza, já com cerca de 36 anos nas costas ainda era um artilheiro nato. Cobrava pênaltis com perfeição cirúrgica, fazia gols de cabeça, cobrando faltas, e de todo jeito. Naquele ano o artilheiro da competição foi Zuza, com 21 gols.

Certa vez perguntaram a Leônidas da Silva, grande centroavante do São Paulo, na época, se ele era o melhor centroavante do Brasil. O grande Leônidas, com muita sinceridade disse: “Posso ser o mais famoso, mas o melhor centroavante do Brasil está em Campinas e chama-se Zuza”.

A mensagem que gostaria de deixar é que devemos respeitar o Guarani F. C. de hoje, que passa por momentos muito difíceis, pois esse clube já deu muitas alegrias aos esportistas de Campinas e creio que num futuro próximo voltará a dar muitas alegrias. Eu estou muito a vontade para escrever sobre o Guarani nesta crônica, pois fui sócio e conselheiro da A. A. Ponte Preta e antes de ser Pontepretano sou um esportista e para mim o Guarani F. C. nunca foi um inimigo da A. A. Ponte Preta, e sim um difícil adversário que sempre motivava a “Veterana” a lutar mais e a montar grandes quadros.

Laércio
Enviado por Laércio em 17/05/2014
Reeditado em 18/05/2014
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