Visão da morte!

Tudo acaba! Através do vidro empoeirado pelos restos da palha da cana, fuligem retorcida (fogo ateado por alguém contrário ao protocolo ambiental), a visão da sua agonia, cheira mal! Visto do alto do elevador, a sua carcaça vomita os restos deixados pela desumanidade. Um vocal gutural sai do seu corpo cadavérico possibilitando a lembrança dos gritos de Roger Waters, junto ao Pink Floyd numa celebração rasgada de emoções na queda das pedras de um malfadado muro. Aqui as pedras não caem, elas, estão coladas, grudadas no seu esqueleto, expõe o seu corpo moribundo.

A intensidade do som de uma guitarra imaginária vibra nas cordas dos seus ossos, espalham suas gotas nocivas pelo vento, dizimam vidas, levam os milhares de mortos, por seus caminhos fluidos, agora, tão venenosos! Oh! Iron Man: “when he travelled time for the future of mankin”, alfa e omega! Canta a sua infância homem de ferro, de quando viajou no tempo para o futuro da humanidade, início e final!

Marca com suas “heavy boots of lead fills his victims full of dread”, eles e elas que, corrompem o seu corpo, escracham sobre o seu ninho na desova! Botas pesadas de chumbo enchem suas vítimas de terror, elas e eles que, multiplicam as mortes, transformam seu ser de luz em carapaça fedorenta, grudenta!

No céu o vermelho e o negro das queimadas assassinas encobrem o azul deixando um rastro de nuvens tóxicas, colorindo acima da sua cabeça majestosa, agora, a sua coroa de rei foi roubada pelas mãos dos governantes inescrupulosos, os quatro diademas foram trocados por espinhos. Sua batalha contra os inimigos é mais sangrenta que a de Alcácer-Quibir, você, tal qual D. Sebastião, irão se misturar às histórias e crendices do seu povo impuro, saudoso de seu reinado.

Asas negras abraçam o que restou da sua vida, devoram os últimos pedaços da sua noiva, regurgitam sobre os farrapos do seu véu os restos da morte! A sua redenção não poderá ser vista por essa geração que tanto o maltratou. Homens, mulheres e crianças lutam para a sua volta triunfal, arregaçam as mangas, cobram consciência dos malfadados humanos, detentores da sua morte! No meio do seu leito, no seu jazigo pedregoso, seu epitáfio: Aqui jaz o seu bem mais precioso, aqui jaz o seu fluido essencial, aqui jaz o Rio de Piracicaba!