Viver é perigoso, ou Ele quer voltar
 
 
 
                                Viver é muito perigoso,  já dizia o escritor  mineiro Guimarães Rosa.
                               “Parlons bas”, sim, falemos baixo para o Nelson Rodrigues não escutar esta frase.
                               Estou me lembrando disso  porque curiosamente o nosso Nelson, que inventou  e enxergava tão bem o óbvio, implicava com a frase do poeta. Saía  perguntando a todo mundo: “ você acha mesmo genial esse “achado” do Rosa, porque não vi nada de genial nisto”.
                               Écoutez , amigo, viver é tão perigoso, que  uma pergunta  me chamou a atenção,  retratando  fielmente o perigo que corremos. Já disse que sou vidrado em frases que são como o abre-te Sésamo. Tomei conhecimento da tal pergunta,  ontem, quando meu amigo Seminale, poeta seminal  do Recanto das Letras, me enviou um discurso antológico do fabuloso  Cantinflas,  ocorrido logo após a segunda guerra mundial, em um dos seus maravilhosos filmes.  Antes do início  do discurso, o apresentador, querendo mostrar  quem é o ser humano,  nos apresenta duas  pessoas se preparando para um jogo de dominó. E uma  delas pergunta:  “Vamos  jogar como dois cavalheiros ou como somos?”  
                               O poeta tinha razão. Nos tempos apocalípticos de hoje até viajar  para o primeiro mundo tornou-se perigoso.  O norueguês que pensa que existe raça (palavra a ser banida urgentemente do dicionário) quer matar todos os mestiços do mundo, incluindo todo o Brasil, citado por ele.  A loucura existe em todo lugar.  
                               Mas, por outro lado,  é um belo consolo saber que existe tanta gente querendo e jogando o jogo da vida como verdadeiros cavalheiros.
                               Não sei nada de educação, mas se me obrigassem a dar uma aula de educação para os jovens,  diria muito pouca coisa. Diria apenas isto:  “Meus amiguinhos   e amiguinhas, lembrem-se sempre que o homem, em certo sentido, é grandioso, capaz de grandes coisas. Mas ao mesmo tempo é a criatura mais frágil do universo. Tem uma vida curtíssima, em termos de tempo, não é muito diferente de uma borboleta, que dura três meses.  Um simples vírus nos mata rapidamente. Um biscoitinho preso na garganta também mata. Como pode um animal desses pretender ser superior a qualquer coisa no mundo? Meus amiguinhos e amiguinhas, eu vos imploro: vivam com humildade e, o mais importante,  se respeitem, no sentido mais amplo da palavra! 
                               Será desta forma e só assim  que o mundo começará a deixar  de ser perigoso.
 

                       Mas nosso mundo está tão caótico, tão difícil de entender que já cresce o número de pessoas desejando novamente governos fortes, pois não aguentam mais tanta violência que se generaliza.
                      E é por isso que o genial cartunista Caruso, lembrado pelo Veríssimo, nesta semana,  conta saborosa anedota, com sotaque alemão. Numa daquelas cervejarias que os alemães adoram, pouco a pouco as pessoas vão percebendo a presença de alguém muito conhecido dos alemães. Sim, era o próprio Adolf Hitler. E aí todos começam a gritar em coro: “Volta, volta”.  Devo dizer que conheci muitos alemães e eles numa cervejaria são de uma alegria contagiante. Mas voltando à piada. Hitler resiste à ideia, mas o “volta, volta” não para, uma gritaria ensurdecedoura. Ele então se levanta, pede silêncio e declara solenemente: - “Está bem, eu volto. Mas desta vez não vou ser bonzinho não!
                   A piada parou aí.  Mas com certeza, se houvesse continuação, tenho certeza, nessa loucura total em que vivemos, a aclamação e as palmas seriam retumbantes.
                   Sou obrigado a terminar com meu sotaque alemão: “ Az aftaas ardeemmm e doem. E como doeeeemmmm!”          
                                                             
                               

 
Nota:  Crônica bem antiga, com alterações e atualizada para o momento em que vivemos.