Sequestro em massa
“O pobre, do sulco da terra, tira mantimento em abundância; mas há os que se consomem por falta de juízo. O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga. O justo come até ficar satisfeito, mas o ventre dos ímpios passará necessidade.” Prov 13; 23 a 25
Que associações faz o sábio aqui! Trabalho, com juízo; disciplina, com amor; indigência com impiedade. Trabalho, disciplina e piedade são coisas de iniciativa pessoal vertida da índole de cada um, quiçá, da formação recebida.
Nas veredas do ranço ideológico, entretanto, o indivíduo nunca é responsabilizado, as coisas são tratadas de modo massivo, sistêmico, tolhendo o particular. Caso pobre, é vítima; se abastado, explorador do trabalho alheio, agente do sistema opressor.
É assassinar um potencial maravilhoso, reduzir os cérebros humanos a guetos ideológicos, trocar o arbítrio pelo som do berrante. O ferro em brasa é aceito, pois, o gado é paralisado pelos prazeres rasos que anestesiam o corpo enquanto lhes sequestram as almas. O velho conceito do “pão e circo” redefinido na poesia de Zé Ramalho: “Povo marcado, povo feliz.”
Assim, pessoas não são estimuladas a pensar livremente acendendo o fogo do saber com sua própria lenha, antes, induzidos às sendas do ranço aquele que faz aderir às máximas prontas, mesmo que sejam obsoletas ou manchadas de sangue.
O mundo se escandaliza com o sequestro de centenas de adolescentes praticado por radicais islâmicos do “Boko Haram” na Nigéria. Elas devem ser “convertidas ao Islã” segundo eles, mesmo que na marra. Ora, esses que instrumentalizam instituições, o Governo, os livros didáticos de modo a introjetar seu ranço fazem o mesmo. A diferença é que o método é mais sutil, embora, a abrangência seja mais ampla, toca uma nação continental, como a nossa.
Espetáculos verdadeiramente obscenos são encenados todos os dias por homens públicos cuja falta de vergonha perdeu a modéstia. Temos uma cara propaganda institucional exaltando o crescimento da Petrobrás, com dinheiro público diante de nossas narinas; mesmo a dita empresa tendo descido do décimo segundo posto para o centésimo vigésimo entre as grandes empresas nos últimos anos. Há muito de podre escondido que deveria ser trazido à luz a bem da higidez da coisa pública.
Contudo, há duas CPIs disputando qual vai “blindar” mais aos envolvidos para que a coisa fique como está. Lembra campos de nudismo, onde, eventual vestido seria rejeitado por ser um estranho no ninho; só entra se “trajado a rigor”.
Interessante que esse pleito “ideológico” reúne no mesmo saco de gatos representantes do coronelismo nordestino sempre tido como agentes mores do sistema explorador e os “bolivarianos” que seriam os bravos defensores dos interesses sociais das minorias. Ora, se as ideologias nada valem, tanto que podem copular prazerosamente as antagônicas, como vemos, por que instrumentalizam tudo para que as ideias de Lênin, Marx, Gramski, e métodos de Goebbels proliferem? Na verdade estão comprando os venais com dinheiro público e marcando paulatinamente seu gado até que a coisa fique irreversível.
Se o baile seguir um pouco mais, em breve, textos como esse e outros melhores com a mesma intenção serão vetados como subversivos por não ostentarem o sotaque do “cavalo do comissário”.
A inépcia mental dessa geração dá pujantes demonstrações, pois, invés de gerar tribunos esclarecidos, pensadores que arrostem ao lugar comum, temos depredações, vandalismo como método de reivindicação, de manifestar descontentamento. Alguém está indignado com algo? Quebra-se uma vitrine dos “opressores” incendeia-se um ônibus e sua “crítica” há de ser entendida.
Embora não ignore que há miseráveis honestos carentes de meios e oportunidades, muito do assistencialismo que aí está via bolsas, ONGs etc, não passa de estímulo à vadiagem, manutenção de currais eleitorais com feno grátis. Agora irão “simplificar Machado de Assis” assim, nossa plebe que ler tais máculas passará a ser ignorante com grife.
Claro que soa lógico isso; afinal, há mais de uma década somos governados por mentecaptos, cujas “virtudes” são sistematicamente inventadas por marqueteiros. O método Goebbels que diz que uma mentira repetida à exaustão acaba sendo aceita como verdade.
Cá estou respirando com dificuldade tais ares e sonhando que bons ventos soprem sobre o país e levem a bruma para longe. Sei que as ramificações já tomam muito dos meios e o governante que vier, caso venha algo diferente, terá muito trabalho; a pecha usada da “herança maldita” fará sentido como nunca.
Que despertemos ainda que tarde; construamos uma nação que recompense ao trabalho, que oriente-se mediante direitos e deveres, a disciplina, e se não for pedir muito, que cultue bons valores derivados de certa piedade. Se for para queimar algo, que usemos o combustível que restou e incineremos o gigantesco comboio da mentira.