Crônicas da copa de 2014, I - aquelas alegrias que não sentimos agora...
Crônicas da copa de 2014, I - aquelas alegrias que não sentimos agora...
Alguém inventou que a Copa do mundo de 2014 seria no Brasil - sabe como é, uma vitrina para mostrar a pujança do país, que entrara num ciclo virtuoso em todos os setores, no período que se seguiu à redemocratização do país. Parecia estupendo. De esfregar as mãos.
É claro que, para ser vitrine, o país teria que se superar - o que era um desafio quase antropológico, considerando tudo (inclusive os governos de plantão). No lugar da malandragem, compromisso; em vez de improviso, competência; substituindo o oportunismo, o foco nos dividendos da copa. Ante tais premissas, não haveria erro, o país projetaria uma imagem positiva e moderna ao mundo, o que, por sua vez, atrairia atenção, respeito e investimentos.
Investimentos governamentais? Não, não, diziam, tudo seria viabilizado através de parcerias e participação da iniciativa privada. Inclusive para construir um estádio no Ceará que depois, correria o risco de ficar desperdiçado? Oxe! E o preço? coisa próxima de 10 bilhões de reais, muito pouco, perto do dividendo esperado.
O paraíso - Copa do Mundo no Brasil, alegria geral e reeleição! Estava tudo certo - tudo calculado...
E veio a realidade. E veio o choque decorrente. A coisa seria tocada pelos administradores públicos brasileiros, com o dinheiro dos contribuintes. Quase trinta bilhões torrados nas obras. Suspeitas de mutretas de toda natureza. Atrasos. Improvisão geral. Projetos deixados pela metade (o que é o ideal para muita gente, pois vai gerar retrabalho e mais contratações depois do evento).
Por causa do retumbante número de escândalos e rolos - como nunca se viu antes, na período republicano, o povo foi às ruas. E o governo entrou em pânico e colocou, através de partidos terceirizados, uma tropa de choque nas ruas, para deter e afastar o povo, quebrando e gritando - "não vai ter copa!", para garantir o evento e os 30% por fora - que estamos numa época de bandidos da administração pública muito pouco modestos (e destemidos)...
Barbarie. Aqui, em Brasília, em Sampa, no Rio, acolá...
Estou me lembrando que, nas copas anteriores, o negócio era acompanhar a convocação, debater largamente sobre a qualidade dos jogadores e técnicos e acompanhar todo o movimento pelo mundo - tudo no plano lúdico e nenhum perigo de misturar as coisas da copa com a mixórdia da política nacional.
Felipão. E Neymar. E pouco mais. Felipão diz que não é mais turrão e, me parece, tem cara de "mais do mesmo". Vai dar pé? Não tinha vaga para Cássio? Não tinha lugar para Luiz Fabiano? Deveríamos estar envolvidos nestas bobagens gostosas. Mas...
Programa esportivo da CBN, à noite: nos ingressos dos belgas e holandeses, a FIFA cravou o nome Arena São Paulo ou coisa assim, para o Itaquerão. No metrô paulistano, o Itaquerão é chamado de Itaquera, que tem o nome popular nas placas indicativas da cidade. O que pode acontecer? Muitos torcedores serem levados para a porta do Morumbi, no hora dos jogos.
Cartão Verde, da TV Cultura. Pesquisa: 33% por cento dos torcedores vão entrar de cabeça na coisa. Mas, 67%, não. E motivos não faltam...
Devíamos estar especulando, devíamos estar pintando paredes com a bandeira do Brasil e colocando bandeirolas nas ruas. E orgulhosos do país e nosso governo...
Alemanha: recomendam cuidado com o Brasil, em certas situações, pois, por aqui, dizem eles, "não se pode dormir dentro do carro!". Santa ingenuidade! Bélgica: o governo recomenda que os compatriotas levem dinheiro vivo, para não correrem riscos com bandidos na hora do assalto.
Aquela reforma de aeroporto que não foi realizada? Vai fazer falta. Aquela obra de canalização de esgotos que livraria um bairro ou favela da fedentina? Vai ser fotografada e comentada. Aquele porto que... Bom, construimos um dos mais modernos do mundo em Cuba, aquela referência de respeito aos direitos humanos e convivência internacional.
O governo de Goiás quis entrar nessa. Goiânia é acima da média - nenhuma vala negra, muitos parques. Duas cidades coloniais e Caldas Novas bem perto. Escapamos! A bola rolou para Cuiabá, que ganhou no truque, exibindo imagens do pantanal, que fica no estado vizinho - de onde não vem boas notícias a respeito...
Vai ter copa. Mas, nos sentimos indignados. Ou com vergonha. Bom sinal. "É uma questão de escalas...", me dizia o amigo português, a respeito de corrupção, teclando no MSN, dizendo, entre linhas, do nossa capacidade, em tal sentido. O rosto ardendo. "Voto popular".
A copa está perdida, diz a VejaMas, Mas, é o contrário: já foi (super)faturada pela elite do país, constituida pelo partido que governa, empreiteiros, FIFA e outros tubarões do estômago de baleia.
Porque Robinho está no album da copa? Tem que ter pandeirista da seleção? Ou o funk destronou o samba no gosto dos jogadores? De quanto poderíamos bater a Croácia? Porque a Nike faz uns uniformes tão simplões? Não tenho conhecimento técnico de futebol, mas isto daria gosto discutir, preenchendo o tempo, alimentando expectativas, aumentando o alvoroço em torno da copa.
Mas, leio agora no site do Estadão que Felipão é suspeito de evasão de divisas, em Portugal. Se estivesse tudo certo, diriamos que os portugas querem por água no chope da nossa copa. Se fossemos argentinos, apesar de tudo, diriamos o mesmo. Mas, somos brasileiros. E é o tal negócio: as técnicas vieram nas caravelas. Mas, sabemos, hoje, somos ninjas nessas coisas...
Não conseguimos ensinar rudimentos do portugues nas escolas, pois foi feita a opção pela demogagia no ensino e a estatística fácil de supostos resultados. Mas, o turista que vem imagina que alguém fale pelo menos os rudimentos do inglês...