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ROBÔS IDIOTIZADOS
 
 
      Recentemente, através dos meios de comunicação, tenho visto e ouvido muitos especialistas e comunicadores dissertarem sobre o uso excessivo das chamadas redes sociais. Óbvio que aí, também incluso, viaja o telefone celular.
 
      Todos são unânimes em afirmar que o exagero não faz bem àqueles que se excedem e quase dão tempo integral em suas peripécias virtuais. Por mim, faço um esforço danado para em tudo isso ser apenas um usuário comedido, racionalmente sem a exorbitância hiperbólica das maiorias viciadas em internet.
 
      Mas consigo o meu objetivo? Sim e não. Claro que de modo algum também me contenho. Às vezes me aquilato aos que do vídeo e do fio fazem o seu porto seguro. Em outras palavras, também sou um desses robôs, robô idiotizado, em carne e osso, repetindo gestos e sestros das multidões, igualmente idiotizadas.
 
      É tarde da noite, e sei que está tarde, mesmo ressabiado ou cansado, quero “só ver os meus e-mails”. Está, então, uma coisa selada e decretada: não tenho mais domínio de mim inteiramente.
 
      Ontem, em turnos diversos, literalmente fui “paciente” de duas sequências de espera, em consultório médico e em uma clínica dentária. Tudo muito igual. Com raríssima exceção, as pessoas permaneciam lá todas amarradas em uma dessas maquininhas cujos verdadeiros nomes nem me arrisco a declinar.
 
      Ainda que soubesse dizer o nome, aqui não ousaria fazê-lo, em face da sempre última novidade tecnológica. Para simplificar a terminologia, boto toda a modernidade em uma só expressão: maquinhas modernosas da internet, mais ou menos do tipo telefone celular.
 
      Perto de mim, na clínica odontológica, sentam-se duas senhoras. A mais gordinha, já pegando o bonde da meia idade, aqui do meu lado e a outra, mais jovem, na cadeira junto da senhora gorda. Ambas em silêncio, já chegaram de maquininhas às mãos. E aí a tarde mergulhou nas estrelas da noite, sem que elas largassem o diacho das ferramentas.
 
      Olhei rumo horizontal, raros eram a cidadã e o marmanjo que não empunhassem um celular. Quanto à vizinha gorda, esta se alternava ora no treco modernoso – seria um smartphone? –, ora também no celular. Fique bem entendido: tudo ao tempo em que ela, com a maior perícia, dedilhada a joça com uma só mão. Que eu notasse, em instante algum fez uso apenas do celular. Até, sim, algumas vezes fez uso só do treco modernoso.
 
      E a mulher mais jovem, o que fazia? Surda, muda e muito silente, um robô em carne e osso, completamente robô idiotizado, penso que se divertia com algum desses jogos da internet. A moça não levantava a vista, ali de nariz enterrado, no “bicho” que também não sei o nome e que, vez em vez, dava um pio bem audível e esquisito.
 
      Mais uma vez, para completar a minha sessão de tortura, corri o olho no amplo salão da clínica, e o pessoal, quase de cabo a rabo, tinha um celular fixado às orelhas. Quer dizer, somos todos robôs idiotizados pela modernidade, umbilicalmente atados às nossas maquininhas falantes.
 
Fort., 14/05/2014.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 14/05/2014
Reeditado em 17/05/2014
Código do texto: T4806530
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