Gaudi,
             o santo de Barcelona


        
Estive em Barcelona durante quarenta e oito horas. 
         Não devo, pois, sair por aí dizendo que conheço a capital da Catalunha. 
         Podia até ter demorado um pouco mais. A National Geográfico coloca Barcelona entre os "50 pontos imperdíveis do planeta".

         Cheguei no hotel, pus minhas malas no quarto, e, com Ivone a tiracolo, ganhei as ruas, avenidas e praças da envolvente metrópole catalã.  
         Fiz um rápido passeio. Mas o suficiente para deixar a Catalunha convencido de que sua capital é realmente bela e acolhedora.

          Quarenta e oito horas, apenas. Mas deu para conhecer a igreja da Sagrada Família e a catedral de Santa Eulália, a padroeira da cidade. 
          E ainda comer uma paella valenciana, regada a um bom rioja, cujo nome esqueci, num simpático restaurante da badalada Barceloneta.

          Deu, também,  para ver, de perto, algumas obras de Gaudi, que, como todo mundo sabe, encontram-se espalhadas por toda a cidade. Vi, por exemplo, a Casa de Batlló.

          Aantoni Gaudi i Cornet, que nasceu em Reus, chegou em Barcelona, com 17 anos, em 1852. E, em Barcelona, morreu, em junho de 1926, esmagado pelas rodas de um bonde.

          Os barcelonenses (acho que o gentílico correto é este; se não for, que me corrijam) continuam venerando seu genial arquiteto. 
          A ponto de quererem sua canonização! Segundo uma agência de notícias espanhola, pedido, nesse sentido, já foi feito a Roma. 

          Consta, que o Vaticano autorizara o arcebispo de Barcelona a dar o primeiro passo, ou seja, a iniciar o processo de beatificação do admirável artista catalão.

           A rigor, a Santa Sé não declara ninguém santo sem que antes lhe sejam apresentadas provas irrefutáveis de haver o candidato aos altares praticado pelo menos dois milagres. E eu pergunto: que milagres fez Gaudi? 

          Mas, consultado, vejam o que respondeu um de seus admiradores: " Parece que para se beatificar  uma pessoa, é necessária a constatação de um milagre. Antoni Gaudi, ao projetar estes edifícios, tocou o céu com as mãos. Que outro milagre se pode fazer?"

          Quem conhece a igreja da Sagrada Família, com suas imponente torres pontiagudas parecendo querer dar um abraço apertado em Deus, até pode concordar com o inocente devoto de "São" Gaudi.

                            * * *

          Estou lendo no boletim da BBC-Brasil uma matéria que trata da febre de canonizações que vem  assolando o mundo católico, com este título: " Populismo religioso acelera a criação de santos, diz analista."

          O despacho chama a atenção para o fato de que "enquanto alguns ícones da Igreja Católica esperam até mesmo séculos para serem considerados beatos ou santos, outros passam pelas etapas do processo com muito mais rapidez."

          Por último, a matéria da BBC-Brasil destaca,  que "especialistas ouvidos, dizem que pressão popular, dinheiro, lobby e influência papal são fatores que ajudam a acelerar a santificação." E lembra alguns exemplos.

         A gente, ainda que não seja um esperto em assuntos ligados a arte de fazer santos, observa, que, a partir  do papa Wojtyla, nunca se beatificou e se canonizou tanto no Vaticano. 

         Como, neste particular, o papa é considerado infalível, se haverá de respeitar, sempre, seus decretos colocando este cidadão e aquela cidadã entre os bem-aventurados de Deus.

          Mas, aqui pra nós, formo entre aqueles - sim sou católico! - que não concorda com a distribuição, muito rápida, de res-plen-do-res; seja qual for o motivo ou a justificativa alegada.  
          Tudo para que,  amanhã, não se tenha que venerar santos de pés de barro... 

    

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 09/05/2007
Reeditado em 10/01/2020
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