CANADÁ FICA NA EUROPA?

Eu sou uma dessas pessoas que não consegue reter uma grande quantidade de informações, ma, até que tenho um alto grau de processamento de informação, me viro bem na vida apresentando soluções para as questões práticas do dia-a-dia. E para essa análise não estou conceituando o quociente de inteligência, mas a esperteza que a vida nos exige a cada momento. O problema de ser assim é que de vez em quando passo umas vergonhas horrendas em público e as pessoas acabam me julgando como uma pessoa menos favorecida de inteligência, para não chamar de burra.

Sem pretensões, não me acho uma pessoa burra, mas sou quase uma jumenta em Geografia. Nunca gostei dos estudos dessa área. Acho que se apegam a umas coisas que me levam a usar meus neurônios em prol do nada. Olha só, para que saber calcular fuso horário? Basta você chegar no outro país e perguntar quantas horas são, pronto o problema está resolvido. Não é que esses conhecimentos não sejam importantes, mas é que só deveriam ser aprendidos por quem usa no seu dia a dia.

Essa coisa de separar o planeta em continente para mim é um pensamento ultrapassado e acho que passa até uma certa ideia de bulling. A Europa é linda, rica e poderosa, enquanto a África é pobre e feia, já os orientais são aqueles dos olhos puxadinhos e ninguém sabe dizer se é chinês ou japonês, porque são todos iguais. Ficam rotulando os pedaços de terra sem levar em consideração as particularidades das pessoas que ali moram.

Isso já era, têm países da Europa que estão quebrados e países da África que estão crescendo, então se faz desnecessário esse tipo de classificação que só serve para envergonhar pessoas como eu que não sacam nada dessas coisas de que país pertence a que pedaço de terra.

Outro dia, estava na agência de turismo olhando uma viagem para Nova Iorque, daí minha amiga que me acompanhava viu um panfleto sobre uma viagem para o Canadá e eu logo desabei a reclamar que não iria para a Europa, que o lugar podia ser lindo, mas não iria mudar o itinerário deixando de visitar países da América para ir para outro continente.

Minha amiga deu um sorriso de canto de boca que para mim foi o suficiente para entender que tinha falado bobeira. A atendente que fazia o orçamento da minha viagem para Nova Iorque me olhou com cara estranha e logo me entregou um papel com valores altíssimos, acho que ela colocou tudo caro só para não obrigar os Estados Unidos a abrigar por 1 semana uma analfabeta geográfica. É claro que quando saí da agência minha amiga desabou a rir da minha cara e ficou me chantageando que eu deveria pagar o lanche dela ou contaria para todos que eu afirmei que o famoso Canadá fica na Europa.

Como se não bastasse essa humilhação a outra situação foi pior ainda. Estávamos em uma mesa de bar quando a conversa passou a ser a viagem de um grupo de professores para a Europa, daí uma pessoa perguntou se a viagem foi para a Inglaterra, eu sabendo da minha condição de conhecimento dos países devia ter ficado calada, mas, não para dizer que sabia tudo da viagem das colegas, gritei alto e em bom som que a viagem foi para Londres. Pronto, foi o motivo da gargalhada da noite, teve até drinque em minha comemoração. Não sabia se eu matava a todos da mesa ou me matava, optei por rir junto com a galera enquanto minha cabeça me convencia que ou eu dou um jeito de aprender geografia ou fico calada nas conversas do tipo.

Tento abrir defesa própria toda vez que passo vergonha. Não sei onde fica, mas me viro muito bem em viagens e acho que isso é o que importa. Viajei, 16 dias para os Estados Unidos. Organizei a viagem, aluguei carro e dirigi 1200 Km entre Orlando e Miami, e isso ninguém me parabeniza por saber me virar nas situações práticas. Penso que isso seja importante e deixo o cérebro vazio para que o processador mental trabalhe rápido, mas isso não convence a sociedade que continua exigindo que eu saiba em que pedaço de terra fica determinado país.

Acho que nunca vou conseguir aprender essas coisas, ainda mais que o Google me dá tudo pronto para eu organizar as viagens, daí me sobra apenas passar vergonha. E não pense você que eu não entendo porque é sobre países estrangeiros, porque também me perco com as orientações do Brasil.

Vi umas fotos de um lugar bonito e com um nome diferente, então pensei logo que fosse um lugar dos Estados Unidos, mandei o link para uma amiga com quem eu conversava pelas redes sociais sugerindo que fossemos visitar, e, para minha surpresa, quando pesquiso sobre o lugar, descubro que fica em São Paulo. Também viu! Esse povo metido, para que colocar o nome da cidade americanizado, deve ter sido colocado por algum sonhador que nem sabe onde ficam os Estados Unidos!

Estou pensando em redigir um contrato minucioso para que meus amigos assinem. Quem me expor ao ridículo me fazendo perguntas sobre algum tipo de localização ou outras dúvidas geográficas será multado, assim posso viajar mais e aprender a me virar bem em vários tipos de pedaços de terra independente de onde eles estejam.

Se não quiserem assinar vou repensar sobre a amizade e começar a chamá-las de ex. amigas, porque não quero pagar com a mesma moeda e expô-las que entendo das distâncias, sei calcular quanto se gasta de gasolina, procurar os hotéis bem localizados, bons restaurantes, consigo fechar boas viagens com preços baixos, tanto que elas sempre vêm a mim pedindo ajuda, até me chamam de CVL (Comissão de Viagens Luciane).

Pensando agora acho que a melhor pedida será cobrar pelos serviços que sou boa. Daí não perco os amigos que amo, ganho uma grana extra e na mesa de bar, quando tiver desanimado, faço algum comentário geográfico e daí a noite divertida está garantida.

Luciane Dias

04/2014

Luciane Dias
Enviado por Luciane Dias em 14/05/2014
Reeditado em 14/05/2014
Código do texto: T4805959
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