By Patricia Porto
 
           Ética? Perdoe o (e)leitor, é que às vezes, por tolice, confundo, vislumbrando determinados contextos institucionais, a palavra ética com algum tipo de “ismo”. E dei pra confundir também a palavra amizade com compadrio, troca de favores e sofás. E a palavra família confundo com nepotismo e churrasco. E a palavra confiança com corporativismo ou fisiologismo. São resquícios talvez da minha ignorância prévia ou tardia. Mas é que tenho curiosidades estranhas por saber o porquê de eu ainda conseguir ficar perplexa quando me dou conta que brasileiro não vota mais? Brasileiro faz fezinha. E dá pra fazer outra coisa, meu irmão? "Votar" definitivamente não é a paixão nacional! E quando é sugerido "o pense antes de votar" aparece um coxinha, misto de almofadinha com fascista, que te xinga de radical, comuna, esquizoide. José Murilo de Carvalho fala bem sobre o exercício do pensamento como “instrumento” de muita utilidade, mas tantas vezes usado pra cair no vão da História.
                Outra questão. Cadê o pensamento?! Será que estamos ficando assim tão pobres em produção intelectual que não dá mais pra ver emergir algo de realmente pensado? Cabeça de político? Bunda de bebê? É qualquer coisa mesmo?
              Por que não assumir o lugar do risco de pensar? Da ousadia de falar o que pensa? Da tentativa criativa e estratégica de mostrar um ser que fica indignado, calcula sim, e pensa por si mesmo? Deixa o pensamento solto! Esse "ser-eu", singular e fraturado que planeja, projeta e que se desafia - sem o papelão ou papelote de ficar atrás da porta, da máscara social, da persona... Deixa fluir o pensamento!
                Na mitologia africana há um orixá que simboliza a mãe-guia das forças das tempestades, a guia que age segundo uma grande força que deixa à mostra as fraturas do terreno, da terra, que desfolha, desalinha tudo para trazer um novo tempo... Qualquer semelhança com o Caos? Pois é. O que estamos tentamos ocultar para não cuidar, olhar e compreender? Justiceiros, linchadores... São eles? Os outros?                      Sabemos que em ambientes hostis precisamos acionar velhas defesas e que para isso vamos desenvolvendo táticas, subterfúgios, cartografias de sobrevivência. E também tem aquele velho e "bem" gasto conformismo. E "conformismo" é uma palavra que às vezes confundo com fingimento, mas que está aí e pertence ao léxico dos que teimam em dizer: "deixa disso" e "isso passa". Porque tem o conformista e tem “gente que finge conformismo” para ritualizar a moeda de troca. "O próximo, por favor!" E tem um tipo de oportunista-conformista que finge ser coleguinha de todo mundo e é um tremendo hipócrita por convicção. Posso crer, inclusive, que esse tipo pode muito - tranquilamente - passar uma biografia inteira como um cínico-medíocre-mediano-conformista, se é que é possível ser tão traste assim. Sabe aquele jeitinho de ser... No caso do Brasil, o jeitinho é mais pra fazer. E a falsa regra da etiqueta é guardar entre os panos e colocar panos quentes onde der, limpar a cena do crime ou as fichas do crime. O Príncipe de Maquiavel sabia bem quais eram as regras da etiqueta. E da etiqueta mesmo passamos longe. De Medieval só a Barbárie.  
           É claro que eu leio os jornais, é claro que tenho acesso às páginas da Internet - do bom e do pior - e sei o que se passa na cidade do Rio de Janeiro e no Brasil. De Cabral a Cabral nós sabemos que vamos mal, pra não deixar de usar esse trocadilho bobinho. E lá vamos nós caminhando às avessas. Excesso de roupas do Rei diria. Excesso de Reis. Mania de Colônia, complexo edipiano de matriz. Da que gruda na gente. Mas as informações nos chegam a todo o momento, quase que pelos poros, entram em nosso órgãos vitais até respirarmos bastante lixo midiático no automático e sensacionalista "tudo passa"... Não dá pra demonizar os que nos deixam mais burros e catatônicos, mas dá pra chamar de calhordas os políticos covardes que se espalham pelo país nesse sistema sócio-econômico cínico-medíocre-mediano-conformista “dos que levam vantagem em tudo”, nas instituições, nas redes de informação e sacanagem. E todo cuidado com o que respiramos de notícia é sempre pouco. 
          Mas aos cínicos de plantão podemos dizer que é possível guardar uma medida de crença, talvez fantasia, utopia de outros tempos, a mesma crença, utopia, ou miopia, que nos faz suportar a existência, o engasgo, e que nos faz também suportar um bocado de mazelas, seja na política, no congresso, nessa estrutura toda com metástase. E espero e devo crer que boa parcela da população brasileira quer mudanças definitivas e bem definidas. E tendo bastante esperança mesmo, quero acreditar que muita gente não vai compactuar com esse “fascismo” de ocasião. A gente acredita no Brasil e acredita como criança, apostando as fichas. Existem "fichas" ainda? Sim, peguem as limpas ali no final de tudo.
            E para não dizer que não falei das metralhadoras, há uns tempos atrás, numa escola pública onde trabalhei, nós, professores e alunos, fomos obrigados a fechar as portas por ordem do tráfico. Tente acertar. Alternativa A: notícia gasta sem qualquer efeito no receptor. Alternativa B: notícia velha que só serve para embrulhar peixe. Alternativa C: notícia renitente que não faz cócegas nos assentos de qualquer Parlamento.
        É... Sobre essa situação lembro que sofri um bocado, sensação de ficar no ponto zero ou morto, na desvalia, se é que me entendem. E para anestesiar minha parcela, no jogo do joão teimoso ou sem braço, lembro que fui de bolinha, placebo desses que no invólucro vem escrito que um dia “isso passa”. Afinal, zero a zero na Educação é uma desgraça.
 
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Patrícia Porto
Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 13/05/2014
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T4805367
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