Entre a infância e a vida adulta
À minha frente vejo caminhar um grupo de adolescentes, meninos e meninas, que aparentemente voltam da escola onde passaram toda a manhã. Todos me são estranhos, e não apenas porque não os conheço, mas também porque passei pela adolescência quase sem me dar conta de que era adolescente – sou capaz de jurar que não houve intervalo entre a infância e a vida adulta. Olho para eles admirado de sua despreocupação, de sua ousadia e do sentimento de que nada poderá detê-los.
Porque adolescente pode caminhar embaixo do sol quente sem passar filtro solar. Pode falar alto no meio da rua para todo mundo ouvir. Pode bater com a mão em uma placa de trânsito e começar a gemer e se contorcer como se tivesse batido a cabeça. Pode parar no meio da faixa de pedestre para amarrar o tênis. Pode rir de tudo e de todos sem sentimento de culpa. Também pode falar palavrão – inclusive as meninas – porque está acima de qualquer julgamento moral. Com um simples gesto de desdém, o adolescente pode negar toda a sabedoria humana acumulada ao longo de milênios. Pode, e muito provavelmente vai, questionar todas as autoridades, instituições e verdades estabelecidas. Adolescente não precisa comer verdura e sempre que possível pode almoçar apenas carne com batata frita. Pode escolher suas refeições no fast food unicamente pelo sabor. Pode fazer do miojo uma refeição habitual. Pode se esbaldar de sorvete e chocolate sem se preocupar com cáries. Também não precisa passar fio dental e às vezes nem escovar os dentes. Pode virar a noite na frente do computador, pode nem dormir. Pode ter como orientação de vida fazer aquilo que mais lhe der prazer. E, independente do que vier a fazer, pode estar seguro de que ainda há uma vida inteira pela frente para se emendar.
Assim eu penso enquanto observo os adolescentes voltando da escola. Sinto um pouco de inveja e me pergunto se as coisas não seriam um pouco mais leves para mim se um dia eu tivesse sido um deles.