Crônica para Lima Barreto - data de nascimento do escritor 13 de maio
O AUTOR DE “O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS”
Ialmar Pio Schneider
Nunca um escritor brasileiro me despertou tanto a emoção e o sentimento quanto esse de o Triste Fim de Policarpo Quaresma. Lembro-me que adquiri alguns de seus livros na Livraria Americana de Passo Fundo, RS, editados pela Editora Brasiliense, no ano de 1965, e que eram Recordações do Escrivão Isaías Caminha, cujo prefácio de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) é um panegírico dos mais eloqüentes dos que já conheci; Triste Fim de Policarpo Quaresma, Numa e a Ninfa, Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, Diário Íntimo e o Cemitério dos Vivos. Posteriormente, comprei outros livros desse literato inigualável de nosso céu literário, pois nos seus apenas quarenta e um anos de idade nos legou uma obra, que pela contingência de sua vida de pobre solitário e qual nosso Mário Quintana, sofreu o revés de não ser eleito para a Academia Brasileira de Letras, compõe-se de dezessete volumes, entre romances, contos, crônicas, impressões de leitura, memórias e correspondência.
Tomei conhecimento, isto já faz muitos anos, de sua literatura através de uma revista em quadrinhos e que narrava a história sucinta de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, que me ficou na memória. Mais tarde foi publicada pela Editora Civilização Brasileira S.A. , do Rio de Janeiro, em 1964 a 3ª edição de sua biografia magistralmente escrita, através de pesquisas exaustivas, do grande entusiasta de sua obra, o acadêmico imortal Francisco de Assis Barbosa, A Vida de Lima Barreto (1881-1922), Prêmio Fábio Prado,1952, que adquiri também naquele ano e que faz parte de minha modesta biblioteca até hoje.
Mas ele foi também um contundente jornalista crítico de costumes e em seu livro Os Bruzundangas, de suas crônicas publicadas em jornais da época, deixou páginas e mais páginas de sátiras até agora sempre válidas para a atualidade. Em o conto A Nova Califórnia, expõe uma descoberta inusitada que não vou aqui dizer para não tirar ao leitor a surpresa. E o final de o Clara dos Anjos é de uma resignação comovente ! Este é o desabafo, por assim dizer conformado, de quem teve uma vida carente das coisas mais simples e nem por isto deixou de ser um dos escritores mais importante da Literatura Brasileira. Hoje em dia todos o reverenciam.
E para finalizar esta crônica, quero fazer minhas as palavras de nosso ínclito crítico literário, no prefácio que fez à obra Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, como segue: “A gloria de Lima Barreto cresce de ano para ano. Seus livros possuem tal marca de sinceridade, de humanidade, de verdade, de dramaticidade silenciosa e honesta, que as gerações se sucedem, as modas passam, os cabotinos aparecem e morrem, os tempos mudam, os acontecimentos mais patéticos enchem os anais dos tempos modernos, dentro e fora do Brasil, e no entanto o Pobre do Subúrbio, o burocrata do Ministério da Guerra, o homem que não tinha dinheiro nem prestígio para publicar seus livros, o homem que fugia de casa e refugiava-se no álcool para não assistir ao drama pungente da loucura paterna, o homem que tinha mais talento literário do que qualquer dos seus contemporâneos e no entanto viveu e morreu quase na indigência, esse homem Bom para quem a vida foi tão má é hoje uma das glórias mais puras do firmamento literário brasileiro e americano, que amanhã será “descoberto” pelo norte-americano ou pelos europeus, como só há pouco o foi Machado de Assis. Sua vida, sua morte e sua obra nos confirmam, uma vez mais, que só por exceção deixa o sofrimento de ser o preço amargo da glória. – Fazenda São Lourenço, 16-VII-1954 – Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde)”.
Esta é uma simples e modesta homenagem que pretendo prestar ao escritor do meu despertar para a Literatura, que já vai longe.
Poeta e cronista – E-mail: menestrel@brturbo.com
Publicado em 6 de agosto de 2003 – no Diário de Canoas.
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