Pode acreditar!
 
Esta história é verídica. Pra ninguém duvidar que possa ser persistente. Sou testemunha. Eu vi, presenciei, e, até, temi! Pedi para Elisângela me acordar, pois, podia estar sonhando. Mesmo olhando, ainda esboçava um sorriso de descrença, dizia não com a cabeça, mas lá estava o bezerro, todo amarrado! Um nelorezinho de apenas seis meses de idade, que correra quase seis quilômetros, e levara atrás o vaqueiro, Rodriguinho. E, Rodriguinho, estava ao lado, comandando o seu resgate. Pedia insistentemente: “Cuidado, não soltem a corda!” Encostei bem a traseira da camioneta no arame, pois o bezerro, apesar de novo, já pesava quase cento e vinte quilos. Eram quatro rapazes, ajudando arrastar o fugitivo, o afoito boizinho, dois de cada lado. E o bicho, mesmo todo amarrado, ainda ameaçava com os pés. Por fim, depois de empurrado por debaixo da cerca, foi colocado na camioneta. Não faltavam perguntas direcionadas ao Rodriguinho. Todos queriam saber como ele conseguiu sozinho, amarrar o pestinha.
Esse bezerro escapuliu por um canto da cerca, e ganhou a estrada em direção a Silva Xavier. Rodriguinho foi ao seu encalço, correndo atrás dele. Elisângela também seguiu na mesma direção, mas quando chegou à estrada, não avistou nenhum dos dois. Eu peguei a camioneta, e fui atrás, preocupada com os dois. Porque estava escurecendo, e a noite adentrando. O crepúsculo se rendia à escuridão, e não havia lua cheia. Encontrei com a Elisângela, que observava as marcas das patas do bezerro no chão. “Foi pra Silva Xavier!” – ela disse. Entrou no carro e fomos para o pequeno distrito. Chegando lá, a praça estava movimentada, e as pessoas alvoraçadas.
Perguntamos se viram o Rodriguinho e o bezerro, e uma mulher disse: “aquele bezerro está endiabrado, passou correndo e quase atropelou minha filha!” Um rapaz comentou: “Rodriguinho passou correndo atrás dele!” Então fiquei apreensiva, não queria que nada acontecesse com o vaqueiro. Entretanto, percebi que era uma questão de honra, ele não voltaria sem a presa, era o instinto de caçador que falava mais alto, neste instante. E, me preocupei. Na praça só se falava nisso: “o bezerro atravessou para beira da linha férrea e disparou em direção a uma fazenda.” Não podíamos fazer nada, pois o local não tinha acesso para trafegar com o carro. Somente restava esperar.
Depois de um tempo, de repente, lá vinha o Rodriguinho. Ele chegou de carona, montado na garupa de uma moto. E, veio logo contando que o bezerro estava amarrado próximo a cerca da fazenda vizinha. Seu sorriso era de pura felicidade!. Dei-lhe parabéns pelo profissionalismo, e ele disse: “quando saio em busca de um animal eu não desisto!” “Mas, como conseguiu?” – perguntei. “O bezerro enfezou, e tentou me pegar, então, joguei o laço, e o peei!” Fiquei pensando no risco que correra, não por causa de recompensa, mas para vencer a empreitada, a caça. Ou, para se salvar? O que o ser humano é capaz de fazer para defender a honra, ou a vida! Todavia, quantos não se importam com a desonra? O seu troféu era o bezerro preso. E, se não conseguisse? Imagino as chacotas que se sujeitaria no lugarejo! Mas, quantos não se importam com escárnios? A constância é uma qualidade, que não podemos abrir mão nessa vida. Entretanto sem teimosia, não é mesmo? Pode acreditar! Esse exemplo de determinação, e de quase excessiva obstinação, aconteceu!
Maria Amélia Thomaz
Enviado por Maria Amélia Thomaz em 13/05/2014
Reeditado em 13/05/2014
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