Meu tempo

Meu tempo

Faz algum tempo que não escrevo sobre o cotidiano. Deixei os acontecimentos povoarem a vida sem me preocupar em registrá-los. Enquanto o mundo presenciava fatos, eu compunha atos, dessa maneira, abandonei a caneta temporal e rabisquei meus caminhos.

Muitos olhos veem o mundo e, certamente, em suas retinas são gravadas as fotografias que serão “escritas em voz alta” e narrarão, sem minha interferência ousada, o real repetitivo. A história conta, à sua maneira, os relatos que ela julga mais pertinentes.

Durante algum tempo fui como um hebdomadário; pontual. Depois de muito tempo escrevendo acontecimentos e acontecidos, descansei. Cansa o corpo, a mente e quebram-se pontas de lápis para tentar manter relatos da vida. A vida deve se apagar para novos acontecimentos.

Alguns me consideram um espião do mundo, pois vivi/ vivo observando, às escuras, os conchavos entre mundo e vida e a perguntar, em surdina, o porquê das coisas. Vivo, constantemente, com dúvidas e depois de muito tempo, descobri que a “certeza é como uma gravidez psicológica”. O que me resta? Restam-me os olhos de lince e a caneta mais rápida do mundo, ou seja, devo descobrir a velocidade de dobra para alcançar distâncias sem perder o meu tempo. Meu tempo é depois de amanhã, por isso escrevi ontem e não hoje, mas escreverei depois de ontem.

Faz algum tempo que estou brigando com meus “eus”; cada qual querendo aparecer mais que eu e deixei o primeiro “eu” para dar voz aos próximos “eus”. Difícil entender? Só quem tem polissemia na escrita entenderá!

Faz algum tempo que não relato o tempo de agora e vivo em outro tempo, correndo na velocidade de dobra; contudo, dei-me um tempo para voltar a tempo de registrar o tempo que acabou de passar. Eu passei! Acabou meu tempo! Time is free! Tempo é money! Time is convenção! Um tempo, por favor!

Mário Paternostro