AS ARTIMANHAS DO INUSITADO
O inusitado traça suas artimanhas como a zombar da gente e
parece até que — com essa imaginação fértil que Deus me deu —
consigo ouvir suas gargalhadas às minhas costas...
Dia frio, céu cinzento e, de repente, lá vem o Astro Rei, “nariz
vermelhinho, olhos arregalados” como se tentando acostumá-los
à sua própria claridade e, é claro, tremendo de frio!!
— “Viva! Até que enfim vossa majestade me honra com o
ar de tão excelsa presença!! Já não era sem tempo"!!
E tal alegria não era desprovida de boa razão: dúzias e dúzias de roupas de molho no tanque, outro tanto batendo na máquina que, cá entre
nós, mais parecia agonizar com aquele barulho “engasgado”, dando
vez ou outra súbitos solavancos. E no chão, na fila de espera, mais
algumas peças aguardando sua vez. E lá vou eu esfregar, enxaguar,
torcer, sem perder de vista a evolução de cada lavada na máquina a
meu lado, eu e ela, ela e eu, ambas no mesmo compasso, na mesma
cadência quase musical, e o “sol lá” em cima, tímido, meio que
aborrecido, nos espionando: “Oi amigão, guenta firme aí até a
gente terminar, senão não vai dar pé, né?!”.
E vamos nós, a água gelada querendo congelar minhas mãos,
mas tudo bem: o sol tímido está lá e me garante o
calorzinho gostoso no corpo e até me atrevo tirar o agasalho, ficando
só com a camiseta.. — “Vê lá, heim majestade, fica aí bonitinho,
mantendo-me aquecidinha até eu terminar aqui!!!!”
 Dentro de casa, nem é bom pensar! As filhotas resolveram dar
uma mãozinha entre gritos, tapões nas orelhas umas das outras,
birra da mais nova querendo ajudar as mais velhas, umas “cem vezes”
de chamadas por “MÃIÊEE”!!!! Mas tudo bem, aos trancos e
barrancos estão dando conta — a seu modo — do recado e, como
dizia Irmã Dulce, nos meus tempos de interna no Colégio Santa
Inês: - “CEST LA VIE. MA PETIT. Vivre et Laisser Vivre”!! (É a vida,
MINHA PEQUENA...Viver e deixar viver).
(Bendita “SECRETÁRIA DO LAR”!! Não podia ter esperado o verão chegar
pra se demitir?!)
E lá vamos nós, maquina e eu, eu e máquina ou... EU MÁQUINA?!
Novamente um inusitado, novamente uma artimanha e... PUFF!!
A maquina pifou de vez, “morreu”!! Agora sim, serei “eu máquina”.
Mas vamos em frente, o sol ainda está lá, me aquecendo como “de gozação”, com seu olhar zombeteiro...
— “Deus meu, nunca esfreguei tanta roupa!! Três filhas e
um marido às vezes dão de dez a zero num time de futebol”!!!
E eis-me agora na cozinha, dando uma pausa para um cafezinho
e o lanche das crianças. Que intervalo bendito (e bem vindo)!!
Pronto, agora vamos para o segundo tempo, tá na hora de
torcer, ou seja, é a reta final. Só que... Não, não acredito!! Começou
a chover?! É, infelizmente essa era a triste realidade.
— “Pôxa, Sol de araque, não dava pra ficar aí quietinho só
mais um pouquinho?!”
Enfim, penduro a roupa na área coberta (ainda bem que tenho
uma..) torcendo pra que seque nem que seja pra depois de amanhã...
Agora sim, roupa limpa, casa nem tão limpa assim, cabeça limpa...?!
Aff!!
— “MÃINHEÊ, a nenê fez cocô!!” (nem tudo é perfeito...)