O olho da noite
Era noite quando a Lua surgiu quebrando a escuridão, espalhando sua luz nas águas verdes do mar do Cabo Branco. Lua cheia, esplendorosa, nascendo lá no fim do horizonte, como se viesse de dentro do oceano, imensa e enigmática.
De posse da câmera fotográfica comecei a capturar imagens daquela Lua. Foram inúmeras fotos até que algumas nuvens ficaram entre eu e ela. De repente as nuvens foram se dissipando e a Lua ficou ali posicionada entre elas, numa formação que parecia um olho, um olho da noite a observar o mar, a terra e o homem. Logo fiz a foto daquele instante. Lá do seu altar celestial, a Lua em formato de olho passou-me uma impressão contemplativa e ao mesmo tempo de tristeza. Era como se ela tivesse percebido como as coisas haviam mudado no mundo terra. Cabisbaixa certamente procurou e não encontrou os seresteiros com seus violões, canções românticas e das janelas o sorriso feliz de suas amadas. Ampliou o seu olhar e também não visualizou os namorados, de mãos dadas a caminharem pelas calçadas tranquilas das praças e praias.
A Lua, sem dúvida, viu clarões velozes rasgando a noite, e logo percebeu que não eram de fogos de artifícios, mas sim decorrentes de armas de fogo, de projéteis que cortavam luminosamente o escuro noturno, pintando de vermelho a violência insana dos homens. Viu uma fumaça intensa espalhando-se pelo céu, e também logo observou que a mesma não sinalizava a paz, mas sim a destruição decorrente de uma imensa poluição gerada pelas máquinas construídas para atender a insaciável ganância humana. Viu o avanço da droga fazendo valer suas pedras de crack, a maconha, o ecstasy, a cocaína e a impiedosa merla. Viu crianças, jovens e adultos perdidos num trajeto que, na maioria das vezes, apresenta-se como sem volta.
Nesse instante as nuvens foram novamente cobrindo a Lua, era como se o olho da noite estivesse se fechando de tanta dor e tristeza ao ponto de uma leve neblina cair sobre nós, como se lágrimas fossem. A Lua ficou por alguns instantes encoberta e a noite se fez escura, mas logo depois, como num sopro divino as nuvens foram se afastando e na amplidão da noite ela surgiu novamente, como um imenso olho, com sua luz a anunciar esperança e fé em dias de paz. Era como se procurasse acordar a humanidade para os ensinamentos de Martin Luther King: “O que me assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas. Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios. O que vale não é o quanto se vive...mas como se vive.”.
A Lua sempre estará no céu para nos transmitir expectativas de um futuro melhor!