Carta à mãe

Mãe,

Achei que talvez gostasse de saber que será avó. Então é com muita alegria que comunico a minha disposição em contar isso a você no dia em que acontecer. As tratativas para isso já começaram, pois ontem mesmo completei um álbum de figurinhas que quero deixar de herança ao seu neto. Casar ainda não foi possível, em parte porque a senhora não está aqui para ajeitar o meu terno (esse negócio pinica um monte).

Como tem passado? Certamente muito melhor do que eu, que não tenho o seu jeito e nem a sua paciência, especialmente quando se trata de camisas sociais. Pago uma mãe para que me lave as roupas, mas a parte de passar ainda é comigo. A propósito, eu não sei o que a senhora faz com as meias, mas elas sempre ficam muito mais brancas quando é você quem lava.

Confesso, diante de Deus e dos homens, que também a sua comida é infinitamente superior à que tenho encontrado nos restaurantes desta cidade. Desde que vim para cá, emagreci mais de cinco quilos, e só irei recuperá-los quando visitá-la e puder jantar todos os dias sem me preocupar com o preço da refeição.

Por falar nisso, na próxima visita levarei alguns livros que tenho aqui e que já começam a ocupar mais espaço do que tenho disponível. Inclusive aquela edição do Dom Quixote que a senhora quer ler. Aproveito que posso viajar com a mala vazia, já que ainda tenho muitas roupas por aí, e encho de livros.

Tenho uma amiga que disse ser sua fã depois que contei o quanto a senhora gosta de ler. De fato, sua média de leitura impressiona e já é superior à do presídio da Papuda, que é onde mais se lê neste país.

A senhora me desculpe eu não dar presente algum neste Dia das Mães, mas é que nunca fui de aproveitar essas datas para fazer a vontade do comércio. Fica, no entanto, esta carta como lembrança do dia. Não é muito, mas pelo menos não é nada para a casa.

A bênção,

Seu filho.

milkau
Enviado por milkau em 12/05/2014
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