Dia das Mães

Dia das Mães.

Em que eu estou pensando? Penso sempre em muitas coisas, mas ultimamente tenho pensado em como sou abençoada, apesar dos pesares e os pesares às vezes pesam muito. Tenho pensado no básico: tenho onde morar, o que comer e tenho trabalho (às vezes demais para o meu gosto...). Tenho amigos e tenho família, o que muita gente não tem e só isso valeria para sentir-me abençoada. Mas tenho pensado também que tive a chance de aprender ao longo destes 55 anos. Às vezes, algumas dores são incrivelmente doídas, parecem não ter fim e que ninguém pode entender, ou sentir o que sentimos. Nossas dores são nossas, não importa quanta empatia sejamos capazes de ter... A solidão e a necessidade do encontro são humanidades difíceis de carregar. Acredito que cada um de nós é um universo inédito e que não se repetirá ainda que se passem séculos e que a ciência possa avançar. Acredito que nenhum de nós, apesar disso, vive só. Então agradeço. Como não me sentir abençoada se mesmo as dores que carrego me são úteis? Com a perda, aprendemos a valorizar o que temos (nem sempre nessa ordem, graças a Deus); com a solidão, entendemos nossa responsabilidade sobre nosso caminho, que ninguém fará por nós, mas aprendemos também a viver melhor e mais intensamente a companhia de quem amamos. Meu trabalho me mostra, todos os dias, que o Dia das Mães não é necessário e nem real. É no dia a dia que construímos esse lugar, são as horas enfileiradas, o tempo que às vezes parece não passar e que de vez em quando nos surpreende na figura de um filho crescido ou uma mãe ou pai envelhecido que nos tornamos alguém em suas vidas. Gerar é mágico, seria hipócrita dizer que não, mas gerar é dado. Criar é construído, é tecido das pequenas delicadezas e das mais difíceis tramas. Gera-se vida biológica em nove meses. Mas para gerar a vida que sustentará outras vidas, a vida que fará diferença, é preciso outro tipo de movimento. É preciso compreender que não podemos tomar aquilo que entregamos; que não podemos viver pelo outro, não importa o quanto nos pareça que sabemos melhor o que fazer. É preciso conhecer e aceitar a responsabilidade pela vida que tomamos em nossas mãos, venha ela de onde vier.

Estou pensando que sou abençoada, pois tive a oportunidade e a benção de ter uma mãe extraordinária. Alguém sábia em sua simplicidade, doce e firme, que me conduziu a uma vida honesta. Sou abençoada, pois tive a graça de gerar e poder criar um filho que hoje é um homem adulto, um ser humano da melhor qualidade. Mas sou abençoada também porque tive, ao longo desta vida, inúmeras presenças que me deram afeto e acolhimento maternal. Mulheres fantásticas (e homens também, porque não?) na figura de tias, primas, madrinhas, amigas queridas, afilhadas... Sou abençoada também porque me foi dado compreender que a maternidade se exerce todos os dias, mesmo naqueles em que nossa paciência parece te chegado ao fim. Porque pude aprender que mães que não geram podem transformar uma aparente impotência em uma história de amor e gerar vida para além do que sabemos...

Então, apenas obrigada. A quem, nem que seja por um segundo, acolheu em seu colo, ofereceu seu afeto e seu abraço a quem se sentia só. Por que ser mãe, acredito cada vez mais, é também uma maneira de elevar o pensamento a Deus.

Feliz Dia das Mães.

11/05/2014.

Raquel DPires
Enviado por Raquel DPires em 11/05/2014
Código do texto: T4803007
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