AMAR SEM SER AMADA
Prólogo
Quero dedicar este texto a todas as mães esquecidas, abandonadas, vilipendiadas pelos filhos cruéis, sem noção do que um dia disse Joanna de Ângelis (Espírito): “O amor é um tesouro que mais se multiplica à medida que se reparte”. É fato! Tão antigo quanto recente, o amor é tema que continua desafiando homens e mulheres na arte e/ou ciência de bem viver.
De uma simpaticíssima aluna virtual e leitora assídua de meus textos recebi um notável e-mail. Trata-se de uma mensagem bonita, mas sofrida, dolorosa, carregada de ressentimentos e sofridos anseios.
Aos sessenta e cinco anos de idade considero-me velho. Todavia, por não estar, ainda, decrépito e/ou senil, compreendi, perfeitamente, o recado da mamãe sexagenária no desespero de seu abandono.
Enquanto eu lia a mensagem da mamãe sofrida minha memória dava voltas e mais voltas. Em algum momento, havia essa certeza, eu lera algo sobre a dor provocada pelo amar sem ser amado (a).
MENSAGEM TEXTUAL DA MÃE QUE AMA SEM SER AMADA
“Caro professor Wilson: Estou de plantão, à espera de um texto seu sobre o dia dedicado às mães. Sinto-me abandonada pelo único filho que enriqueceu economicamente, mas empobreceu de espírito e afeto.".
"Conforta-me saber do progresso financeiro dele, mas entristece-me e me envergonha sentir o desprezo cruel e gracioso que proporciona a mim e aos seus outros dois irmãos menos aquinhoados com dinheiro.”.
“No começo havia reciprocidade: a esperança me alimentava e eu a ela. Mas, agora… Não consigo esquecer que sou cruelmente negligenciada. Antes eu ligava para ele e ouvia uma sonora gargalhada, para em seguida, com a voz empolada pelo excesso de vinho me dizer: “Eu não estou interessado em lhe fazer uma visita...".
"Agora, mais louco, atrevido e desrespeitoso, bate o telefone e desliga sem me atender. Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia? Todas as lágrimas que choro não são suficientes para desfazê-lo.".
"Atualmente, em meus raros sonhos cinzentos, vejo o meu enterro. É um momento triste, diferente, que transcende a paz de uma mãe e avó zelosa que sempre sou. Esse sonho não se abre em caminhos floridos que levam à uma realidade desejada, onde braços afetuosos deveriam me esperar com amor e alegria.”.
“Quando o meu esquálido corpo baixar à sepultura o meu não menos pobre marido, autodidata, eterno aprendiz e batalhador incansável, certamente será o único presente. Isso se ele não for primeiro ao encontro do Criador. Se isso acontecer eu estarei ao lado dele balbuciando o Salmo 23 e Eclesiastes 3 que ele tanto gosta.".
"Meu marido nunca me abandonará nem eu a ele, mas, aonde andarão meus filhos? Onde estará o filho ingrato, risonho, que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo? Onde estará o hoje pulha (desculpe-me pelo destempero), mas antes o menino bonito e graciosamente ridente?”.
“Provavelmente estará degustando vinho francês e comendo queijo suíço ou alemão; talvez, assando uma picanha suculenta e maturada com seus falsos e degenerados amigos, acompanhados com mulheres de riso fácil... Mas eu gostaria de saber o porquê dele não me visitar, ao menos para dizer “olá, você está feliz mamãe?”.
"Ah! Se ele soubesse como é triste sentir a dor do abandono… Queira o bondoso Deus que ele nunca passe por esse atroz, sinistro e sombrio tormento.”. – (Ass. Mãe sofrida e cruelmente abandonada).
MINHA RESPOSTA À MAMÃE SOFRIDA E ABANDONADA
AS BOAS LEITURAS ESTIMULAM NOSSAS MENTES
Há excelentes livros que hoje ninguém lê, principalmente a juventude trasviada, isto é, aquela que se desviou dos padrões morais vigentes, – Campo de Flores – Folhas Soltas – Luar de Janeiro – Olhai os Lírios do Campo – A Musa em Férias e mais alguns. Na diversidade dos seus autores são livros onde se espraia um olhar nostálgico pela natureza saída da criação divina, e onde a presença do ser humano tantas vezes se digladia, entrando em conflito com essa harmonia originária.
Quando eu estava lendo a mensagem da conspícua leitora lembrei-me de um período escrito por Guerra Junqueiro quando escreveu “A Musa em Férias”. Na ocasião, devidamente inspirado escreveu: “Por isso, quando o sol da vida já declina, (...), é-nos doce parar na encosta da colina e volver para trás o nosso olhar plangente.”.
UMA EXPLICAÇÃO PLAUSÍVEL
No livro "Nossos Filhos são Espíritos", escrito por Hermínio Correia de Miranda há um pequeno trecho onde se encaixa, possivelmente, o caso da mamãe atormentada pelo abandono do filho desidioso e considerado por ela um incorrigível ingrato. Leiamos essa explanação:
"Dificilmente você saberá, com suficiente precisão, de quem se trata e quais as vinculações anteriores que os unem. Pode ser, contudo, algum amigo muito querido de outras eras, que vem para testemunhar-lhe seu amor, para ajudá-lo na difícil tarefa de viver, para fazer-lhe companhia, quando chegarem os cinzentos anos de solidão e velhice, ou até para ser o suporte material de sua vida.".
"É certo que poderá também ser o adversário de outrora, que conserva ainda rancores e desafeições pelo que, obviamente, você lhe causou. Vem, contudo, para que possam ajustar-se na conciliação, para que se perdoem mutuamente e tenham condições de seguir, dali em diante, em paz, como amigos fraternos, ou, pelo menos, não mais como adversários." – (Nossos Filhos são Espíritos, 7ª edição, 5ª reimpressão, página 26, escrito por Hermínio Correia de Miranda).
CONCLUSÃO
Acredito na explicação plausível existente no livro "Nossos Filhos são Espíritos", escrito por Hermínio Correia de Miranda. Claro que não é por acaso uma concepção em que um espírito procura sua mamãe para resolver conflitos anteriores. Essa busca de oportunidade do renascimento precisa ser consolidada no perdão mútuo e evoluções dos espíritos hoje encarnados em mãe e filho.
Não basta, aos idosos, completar sessenta e cinco anos de idade, procurar e exigir seus direitos constitucionais (Vide art. 230, §§ 1º e 2º, da CF/88). Nos lares, asilos, manicômios, ruas e vielas há muitos idosos abandonados por seus familiares, amigos, e, pelo próprio Estado! Pais abandonam seus filhos e, vice-versa, os filhos ressentidos abandonam seus pais.
Sem nenhuma dúvida pude concluir que na mensagem da mamãe abandonada há uma dor profunda. Essa dor que ninguém pode sentir por nós chama-se: Ingratidão! William Shakespeare escreveu: “Ter um filho ingrato é mais doloroso do que a mordida de uma serpente!”.
Para essa sofrida mãe o abandono pelo filho ingrato, possivelmente magoado e com rancores de outrora, estava sendo demasiado cruel e milhões de vezes pior do que a mordida de uma víbora.
AMAR SEM SER AMADA
É horrível, tétrico, atroz, cruel, doloroso, lancinante, impiedoso, infernal, monstruoso, pungente, aterrador, disforme e desconforme pensar em quem não pensa em nós, amar a quem não nos ama.
Isso nos faz perder, às vezes, a compostura; torna-nos irracionais pelo fato de não dormir, não permitindo que tenhamos sonhos coloridos em bosques encantados, onde os animais, apesar de silvestres, são solidários com nossos temores.
É num local mágico – bosque encantado – igual a esse, na dimensão cósmica, em que o surreal é perfeitamente esperável, onde devemos buscar lenitivo para curar nossos medos, anseios e dúvidas para um porvir conquistado segundo nossos méritos.
Para elevar a autoestima e não ficarmos, nós idosos, à espera da gratidão e dos cuidados econômicos e afetivos de filho (s) e demais familiares cruéis e ingratos eis um pertinente e oportuno conselho: Atividades culturais tem tudo a ver com envelhecimento ativo.
E, dentre as atividades culturais quero sugerir e enaltecer viagens, prática de esportes adequados à idade, o teatro, o cinema, a música, a dança, o estudo diversificado de outros idiomas, as boas leituras e a escrita como sempre faço e também por ser instigado a fazê-lo.