Mamãe
Mamãe
O dia era uma promessa, o sol surgira logo ao amanhecer, subindo sobre montanhas e planícies, emergindo de um mar calmo, em sintonia com a musica do canto de pássaros e dos lampejos de cores azul escarlate que refletiam sobre a copa dos manguezais. Algumas embarcações surgiam lentamente à praia, velas recolhidas e para pescadores uma certeza de missão cumprida. Um domingo especial dotado de toda a primazia odorífica das flores, assim como aquela orquídea tão bela quanto a mais exuberante forma divina que só nasce uma vez a cada ano e, naquele exato momento, naquela localidade esquecida no próprio tempo, no recôndito de lembranças tardias ou nas lendas de um sonho chamado encanto, fizera na plenitude do medo e da sintonia apócrifa da nudez da noite, um encontro de amor... É assim, maio chegou, o perfume está no ar, a solidão foge dos corações e tudo se renova, é como se o mundo renascesse a cada ano, quando nasce a orquídea mais bela, cessam as chuvas e apagam-se os trovões. O Cristo já ressuscitou e, mamãe assim como em todos os anos, renasce em meu coração, com a impetuosidade dos ventos de verão e como o calor ardente de muitas paixões.
Ainda há poucos me lembrei daquela musica de Vinicius de Moraes que diz: Eu sei que vou te amar... E esse verdadeiro amor que supera tempo, vento, intempéries e faz suscitar lembranças inigualáveis de afeto, compreensão e amor de algo que só poderia ser tu, mamãe! Eu não sei quanto tempo eu ainda vou viver para te dizer isso, mas sei que no próximo domingo, sobre o teu sepulcro vai repousar uma orquídea cultivada em meu coração, com a inscrição: Feliz dia das mães, mira adorada mamãe.
Airton Gondim Feitosa