A TEORIA DA RELATIVIDADE NA FÍSICA MATERNA

Mãe não, madrasta! Ciumenta, a vizinha malograda no desejo de ver a filha casada com o português viúvo vingou-se da rejeição incutindo essa ideia na cabeça dos três órfãos, com idade entre 2 e 6 anos, antes mesmo do casamento do pai.

Por essa razão já nos primeiros meses de casada a jovem esposa, mais triste que contrariada, desabafou com o marido:

Onde já se viu as crianças me chamarem de madrasta! Se de mãe não me podem chamar, de madrasta eu não quero!

No início dos anos 30, em seu castelo às margens do rio Paraíba do Sul Leonor reinava com generosidade tão soberana quanto a das rainhas de Portugal e Espanha suas homônimas e era justa a inconformidade em relação àquele tratamento.

Na manhã seguinte, a primogênita, única menina do trio, intuitivamente a par da situação resolveu de vez o impasse combinando com os irmãos:

Nem mãe, nem madrasta, Nózinha.

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Mamãe, minha mãe, mãe, a mãe, como queiram ou, e pronto!

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A menina que ela tinha sido insistia em ser ainda um pouco todo dia. Para ficar mais forte quando a dor batia, tomava óleo de fígado de bacalhau, precisando de mais coragem para vencer desafios, se enchia de energia com uma caneca quentinha de Toddy ou Nescau.

Quando se tornou mãe, deu de mamar para os filhos com empenho de quem queria mesmo era ensinar-lhes a sonhar. Trabalhou por 30 anos como professora nos turnos da manhã e da tarde, em escolas diferentes e, no dizer da filha caçula, ainda inventou fazer uma tal de faculdade!

Só mesmo ela, a mãe, mulher incansável da insistência da menina – amou muito, se enganou às vezes e se lastimou com discrição.

Meia década mais tarde, morando nas proximidades da via láctea, dispondo de outros vigores e distinta formosura, sente ainda o frescor diferenciado de cada um dos cinco filhos amados.

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Durante um almoço de domingo, os filhos reunidos com a matriarca discutem sobre as características, aspas, boas e más, herdadas dos pais procurando cada um a sua maneira justificativa para, aspas, erros e acertos pessoais.

Segura da relatividade do assunto, a mãe, um Einstein de cabelos branquíssimos perfeitamente alinhados acalma os ânimos da prole, apresentando a eles a teoria:

Energia pessoal se conquista multiplicando a massa previamente obtida com as melhores receitas de nossos pais, pela velocidade ao quadrado, de nossos passos.

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Mãe, musa, gata, chamego, abraço, novelo de lã eternamente aos desembaraços.