POR FAVOR: NINGUÉM LEIA!!

Sei que muitos de vocês não se darão mesmo ao trabalho de ler, pois pensarão que é um título escolhido a dedo para chamar a atenção. Confesso que é. Mas... que mal há nisso? Ruim é ser alienado, é não perceber o que se passa à sua volta! Fiquem tranquilos: não vou falar sobre o estrondoso sucesso do Lepo Lepo ou da magnífica letra de Beijinho no Ombro – obra da mais nova filósofa brasileira Waleska Popozuda! É terrível, mas cada um tem a liberdade para ouvir o que quer e gosta. Sei que você não deseja ler nada do que vou dizer nesse texto idiota! Você aí, sentado diante do seu computador com uma gostosa xícara de café quentinho ao seu lado. Sabia que nesse exato momento muitas crianças estão perambulando pelas ruas? Crianças excluídas da sociedade, aprendendo a roubar, a matar, a vender drogas pra ganhar algum dinheiro, a se prostituírem. Ah, isso é clichê! – dirá então. Decide, então, parar de ler no mesmo instante, deixar toda essa baboseira de discurso social pra lá e procurar algo mais interessante pra passar seu tempo. Mas, a curiosidade do ser humano é imensa! Pensa, logo a seguir: “vou terminar a leitura, quero saber o que essa chata vai escrever mais, sobre que asneira ela vai falar nas próximas linhas!” Aí você vai ter que ler sobre a minha indignação por ver comunidades inteiras dominadas, regidas e dizendo amém ao tráfico, talvez até porque em sua miséria, ao ver um filho doente e sem condições para tratá-lo, a mãe procura o traficante para pedir ajuda e ele tira mil reais do bolso e diz: “vai cuidar da criança!” Mas, com certeza, mais tarde ela vai pagar essa dívida! Não com dinheiro, mas com favores! Porque aquele traficante lhe deu condições de salvar a vida do seu filho! Meu Deus, eu estarei ficando louca? É isso mesmo? Bom, seria preferível que eu deixasse esse assunto de favela pra lá e falasse sobre a triste rotina dos hospitais públicos brasileiros, onde morrem milhares de pessoas todos os dias por mau atendimento, ou pela total falta dele, ainda nas filas esperando um atendimento que nunca vem? Será que a Copa do Mundo é mais importante que a saúde, que as crianças nas escolas, que as crianças nas ruas? Será que devo partir para o campo da fatalidade, dizer que as pessoas das filas do SUS morreram porque estava na hora delas, que cada um já nasce com o destino determinado? Não, nada disso é obra do acaso. Chega dessa coisa irritante de colocar o acaso como dono do destino! Sim, ele existe, mas há casos e casos. E nesses casos que eu estou falando é obra da humanidade mesmo! Da sociedade (des)organizada, da população, da irmandade, da família, da gente! Será que a pobreza é mesmo um pretexto pra ignorância? Será que pobre não pode ler Machado de Assis, como disse recentemente a reescritora da obra Machadiana? Será que ela não está jogando na nossa cara o horrível preconceito que ela mesma traz arraigado em suas entranhas? Seria isso importante a ponto de figurar numa matéria da Veja? Ou seria mais útil ao Planeta que fizessem uma matéria mostrando quantas árvores são derrubadas na Amazônia, no pulmão do mundo todos os dias – a maioria clandestinamente? Se mostrassem, dando nomes aos bois, quantos políticos corruptos eleitos pelo povo roubam descaradamente e não estão nem aí para esse mesmo povo que os elegeu para representá-los? Eu sou louca, mas esse é o meu modo de pensar, essas são minhas indagações! Algumas coisas a gente aprende com os livros, outras com as pessoas, outras com a vida, mas a maioria se aprende mesmo é quebrando a cara.
Esse é um texto feio. Acho que o pior que já escrevi. Portanto, não o leiam mesmo, nem mostrem para ninguém, pois ele não contém nada de bom, produtivo, romântico ou belo. Se quiserem ler, a responsabilidade é de vocês. Tenho dito.

***



*PS: Esse texto foi inspirado na sugestão de um querido amigo Recantista: O PRESIDIÁRIO.