Encontro com o Autor
Depois de “cronicar” – com licença aos zelosos pela língua pelo neologismo – e de historiar a própria vida profissional para ter o direito à aposentadoria em paz de psiquê (espírito, diriam muitos) e usar disto como divã de seus recalques para externar mal-entendidos e angústias, o cronista saiu para buscar mantimento para casa – o corpo.
Encontrou-se pelo caminho tesouro: o cumprimento sorridente com o Autor, o outro. De sua obra havia se servido para recontá-la em forma literária: Empresário que Valorizava seus Operários Desaparece Misteriosamente em Barbacena*
Congratulações de ambas as partes. Um elogiava o trabalho de historiador do outro e sua obra que serviu de matéria-prima para a crônica do contador de história cotidiana que servira da História registrada para conscientizar o cidadão de seu passado quase esquecido.
Soube-se que aquele não era o primeiro encontro com o Autor. O primeiro fora em uma excursão à Marataízes feita lá nos idos de 19... – que neurose de apontar sempre datas e fatos. Não importa. O principal era que nesta viagem o Autor agora era o bebê que, com os pais, estavam no passeio. E o cronista, o tímido – sempre a timidez: expressão do inconsciente – o adolescente de 15 anos que queria ser professor – só professor de... Nem se sabia ao certo de quê naquela época. Professor de História, provavelmente.
Houve troca de memórias e lembranças guardadas no consciente do cronista e nas fotos do pai do Autor que acusa aquele momento de encontro alegre entre as duas famílias excursionistas e vizinhas de bairro.
Os tempos passaram: Cronos e Cairós. O bebê hoje é o jovem-senhor Autor e o adolescente tímido tornou-se professor de História e Geografia metido a literário e escriba das cenas do dia-a-dia, um senhor de meia idade – mais para a idade inteira do que para o meio, metade da vida.
Despediram-se. O Autor seguiu seu caminho e o cronista largou os mantimentos do corpo nas vendas e correu para casa. Foi como operário tecer seu texto contando ao público o encontro e sua trama de tecido, sintéico (refiro-me ao texto presente antes que os procustos da língua reclamem o mal uso da vírgula que usei como bisturi para fazer o corte) – nenhum veludo, nenhuma seda ou mesmo brim ordinário de algodão.
Prezado Autor, foi um prazer aquela excursão, eu adolescente e você criança, com nossos pais e a saudosa Odila (homenagem a esta minha mãe postiça, que com a convivência de mais de 50 anos na família tornou-se parte dela participando das alegrias e tristezas no seio familiar – permitam-me a referência como requer o “dia das mães” no presente maio). Foi um prazer ler seu livro – ele nos faz ver Barbacena com mais brilho. Foi um prazer conversar com você, ter notícias de seus queridos e lembrar os meus que ainda são presente e daqueles que fizeram passagem.
Felicitações, sucesso e um abraço (meu e de minha família).
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 11/05/2014